Apesar do Brasil contar com uma população majoritariamente negra, 56% segundo o IBGE, o racismo estrutural no país acaba por dificultar a inclusão dessa parcela da população. O dia da consciência negra, celebrado em 20 de novembro, é o momento de ressaltar a resistência do povo negro. Ao mesmo tempo, é a chance de reforçar ações de equidade racial.
Por isso, a consciência negra precisa ser mais do que uma data festiva. Ela deve ser a oportunidade de fazer reflexões profundas. As organizações precisam encontrar caminhos para que as iniciativas sejam transformadoras, indo além da data. Dessa forma, o mês é uma oportunidade de pensar como empregar cada vez mais ações afirmativas, aumentando a diversidade, equidade e inclusão (DEI) no dia a dia das empresas.
Neste artigo, vamos compreender como o mercado de trabalho trata da questão racial e qual é o seu efeito nas empresas. Além disso, vamos apontar as ações possíveis para gerar impacto nessa data. Continue a leitura e descubra.
Dia da Consciência Negra: o que significa?
No dia da consciência negra é celebrado o Dia Nacional de Zumbi, figura imprescindível na luta contra a escravidão no período colonial e, hoje, uma figura inspiracional para a luta antirracista. Zumbi dos Palmares foi um homem pernambucano, nascido livre e posteriormente escravizado pelo reinado português.
O dia 20 de novembro marca o dia em que Zumbi foi morto, em 1695. De tudo que já foi documentado ao seu respeito, sabe-se que Zumbi representava uma forte liderança entre os seus e conseguia fazer sua voz ser ouvida pela coroa portuguesa. Um de seus movimentos mais significativos foi enfrentar assiduamente a coroa portuguesa que naquele momento referia-se ao povo negro como rebeldes e tentava com Zumbi um acordo que subjugasse os atos de rebeldia.
Para a luta antirracista, Zumbi dos Palmares é um grande símbolo representativo para o mês da consciência negra, pois se manteve firme contra todas as tentativas de acordo, não subjugando a luta do povo negro escravizado à lealdade e fidelidade demandada pelo reino.
Na década de 70, as circunstâncias da morte de Zumbi foram descobertas, incentivando que ele fosse escolhido como uma figura de referência. A comemoração da data vem a partir de demandas sociais, encabeçadas especialmente pelo Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial. Sua instituição tem o objetivo de estabelecer uma data que celebre verdadeiramente a ancestralidade negra. Anteriormente, o dia 13 de maio era a única data de referência para relembrar a história da população negra no Brasil.
Dessa forma, a data foi instituída oficialmente no dia 10 de novembro de 2011, através da lei nº 12.519. Apesar das demandas, o dia da consciência negra ainda não foi instituído como feriado nacional.
Ainda assim, é um momento que suscita discussões sobre como o trabalho para promover a equidade racial tem sido feito no Brasil.
A seguir, vamos compreender melhor como está acontecendo a inserção de pessoas negras no mercado de trabalho. Além disso, vamos elucidar de que formas as organizações podem construir ações de impacto na data.
Como anda a equidade racial no mercado de trabalho?
Infelizmente, apesar de pessoas pretas e pardas serem a maioria da população, sua inserção e permanência no mercado de trabalho ainda é baixa.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as desigualdades nas condições de trabalho entre pessoas brancas e não brancas são expressivas. Foi registrado que 28% da população negra encontra-se em situação de subutilização — quando o trabalhador não trabalha ou trabalha menos do que gostaria — contra 18,8% dos grupos não minorizadas racialmente.
As diferenças persistem quando se diz respeito à remuneração salarial. Nas ocupações informais, pessoas brancas chegam a ganhar até R$800 a mais. Já nas ocupações formais esse valor aumenta para R$1.200.
Além disso, a capacitação não acaba com as diferenças. Os gráficos do IBGE sobre as Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil (2019) destacam que, as discrepâncias no mercado de trabalho seguem o mesmo padrão, embora menor, para os profissionais negros e negras com nível de escolaridade superior.
Qual é o impacto da diversidade racial nas empresas?
Valorizar a consciência negra implica pensar no impacto da diversidade nas empresas.
A elaboração e aplicação de políticas de diversidade, equidade e inclusão racial nas organizações significa atender às demandas sociais atuais. Além disso, é uma questão de reparação histórica das desigualdades sofridas pela população negra.
A diversidade racial nas empresas com políticas de inclusão proporciona inovação e crescimento, tanto para a organização quanto para os profissionais.
O impacto positivo gerado é diverso e perceptível da seguinte maneira:
Aumenta-se o incentivo à inovação
Quando um ambiente corporativo está mais exposto à diversidade de culturas, corpos e vivências, os estímulos para a criação de novas ideias são maiores. O mercado de trabalho atual está cada vez mais atento à dinamicidade e ao engajamento de novas soluções.
Maior produtividade e qualidade das entregas
Consequentemente, trabalhadores estimulados e criativos oferecem resultados lucrativos para as suas corporações. A produtividade aumenta, tanto quantitativamente quanto qualitativamente.
Melhora na percepção da marca empregadora
Além disso, um impacto significativo é a resposta positiva do público sobre organizações engajadas em políticas de diversidade, equidade e inclusão. Empresas com diversidade racial são mais valorizadas e tendem a conquistar bons parceiros para negócios.
Como construir ações de impacto no Mês da Consciência Negra?
A verdade é que a equidade racial não virá apenas com ações pontuais, esporádicas e facultativas. Faz-se necessária uma medida antirracista mais firme e constante por parte das organizações. Políticas de diversidade, equidade e inclusão, portanto, devem ser compreendidas como uma agenda do negócio.
Aqui na Singuê, nós trabalhamos com um tripé de educação, estratégia e desenvolvimento de carreira, por exemplo. Na parte de educação, entram as ações de comunicação, palestras sobre diversidade, oficinas e outras atividades. Mas é preciso ir além, pensando também uma estratégia de inclusão mais robusta e ações para o desenvolvimento de carreira de grupos minorizados.
Isso não significa que vamos deixar o mês da consciência negra passar, mas que é importante pensar essas ações com consequências mais adiantes. Veja a seguir nossas sugestões para a data, que você pode aplicar em novembro e também no restante do ano todo!
Patrocinar ações sociais
O racismo estrutural impede que a população negra acesse muitos direitos, como educação, saúde e lazer. Por isso, muitas organizações sociais se juntam para tentar suprir essa lacuna. Assim, o dia da consciência negra pode ser uma boa oportunidade para promovê-las e fazer com que a solução chegue até mais pessoas.
O apoio pode ser em dinheiro, mas essa não é a única forma de fortalecer a ação. É possível transferir conhecimento, criando algum tipo de treinamento com os colaboradores do projeto. Também pode ser benefício dar visibilidade a iniciativa ou ajudá-la a encontrar novos parceiros.
Além de contribuir com a organização em si, você pode engajar seus colaboradores na ação, contribuindo para o letramento racial de todos e também aumentando o sentimento de pertencimento deles na empresa. Afinal, construir ações sociais no trabalho é uma poderosa ferramenta para unir a equipe e melhorar o engajamento de colaboradores.
Promover eventos de valorização da cultura negra
Os eventos também são uma boa forma de comemorar a data. É central olhar para a cultura negra com a ótica da valorização, destacando a riqueza construída por essa população.
No evento, é possível promover a literatura, culinária, criatividade, música, entre outros aspectos da cultura negra. Também é essencial que profissionais negros estejam envolvidos na organização do evento e sejam os protagonistas das exposições.
É um momento que fará os profissionais negros da organização se sentirem valorizados. Além disso, será bastante educativo para todo o time.
Construir treinamentos sobre antirracismo
Palestras e treinamentos são uma boa opção, seja dentro de um evento ou isoladamente. Mas preste atenção para que o conteúdo seja realmente enriquecedor e traga impactos após a sua realização.
Afinal, o objetivo deve ser que o efeito das ações construídas na consciência negra durem.
Distribuir livros de autores negros
A distribuição de livros também pode ser uma ação interessante para a data. Em geral, autores negros tem menos espaço e visibilidade no mercado. Essa é uma boa oportunidade de fortalecer o trabalho desses profissionais.
A temática das obras não precisa ser necessariamente sobre o antirracismo. A ação pode ser promovida como uma valorização da literatura negra e trazer textos de diferentes assuntos, incluindo obras de ficção.
Dependendo do tamanho da organização, essa iniciativa pode ser promovida entre os colaboradores da empresa ou como uma ação maior, para o público geral.
Capacitar profissionais negros
Promover treinamentos específicos para profissionais negros causa um impacto muito positivo. Aulas focadas no desenvolvimento de liderança, por exemplo, podem ser bastante estratégicas para esses talentos.
Considerando que profissionais negros ocupam cerca de 4% dos postos de liderança, essa iniciativa pode ajudar a transformar a realidade. É uma boa forma de contribuir para a trajetória dos profissionais, apoiando-os a chegarem em cargos mais altos.
Com ações como essa, você pode promover e valorizar a Consciência Negra tanto em novembro, quanto nos próximos meses. São iniciativas de impacto, que deixarão marcas mais profundas no seu negócio e contribuirão com a diversidade étnico-racial na sua equipe.
Se a sua empresa deseja construir ações que valorizem a consciência negra e promovam a diversidade, vale contar com o apoio de uma consultoria de diversidade. Conheça o trabalho da Singuê e veja como podemos te ajudar!