O terceiro setor desempenha um papel crucial na sociedade contemporânea. Preenchendo lacunas e promovendo mudanças sociais, o seu foco é atuar onde o Estado e o setor privado muitas vezes não conseguem suprir. 

Hoje, o Brasil conta com 237 mil organizações sem fins lucrativos (ONGs). Muitas estão ligadas a movimentos sociais, que visam aumentar o bem-estar coletivo. Entre as ações promovidas, aumentar a diversidade em diferentes setores é uma das pautas dessas organizações.

A equidade racial é parte integrante da inclusão e diversidade. Sua promoção no terceiro setor é fundamental para que projetos sociais e culturais sejam liderados por uma gama diferente de pessoas.

Neste artigo, você vai entender como o terceiro setor se estrutura hoje. Além disso, vai compreender a importância da diversidade racial dentro dessas organizações e o impacto que isso gera. Siga a leitura para saber mais. 

Quem constrói o terceiro setor hoje?

Ainda que o terceiro setor lide diretamente com pautas sobre diversidade e inclusão, nem sempre isso se reflete nas pessoas que promovem as ações. Dados mostram que a inclusão no terceiro setor é pequena, especialmente nos cargos de liderança.

As mulheres são a maioria da força de trabalho do terceiro setor. Segundo o mapa das OSCs, elas representam 65% dos trabalhadores que compõem essas organizações. Ainda assim, quando olhamos para os cargos de liderança, elas são minoria. Na maior parte dessas organizações, 46%, a liderança feminina é pouco expressiva. 

No quesito racial a inclusão é ainda menor. O número de funcionários negros é baixo. Atualmente, 36% das organizações tem menos de 20% de funcionários negros em seu quadro. Segundo a Associação Brasileira de Organização Não-Governamentais (ABONG), pessoas negras que atuam no terceiro setor ganham 27% menos que pessoas brancas

Uma boa parte dessas iniciativas tem trabalhado para que esse cenário se transforme. A maioria das organizações de terceiro setor tem visado aumentar a contratação de talentos negros. Ainda assim, 51% delas não adota nenhuma política para que pessoas negras alcancem cargos de liderança. 

A estrutura interna dessas organizações interfere na forma como projetos sociais e culturais são construídos. Além disso, impacta em como tais projetos irão causar efeitos na sociedade. 

A responsabilidade do terceiro setor com a equidade racial

As diferentes organizações sociais têm o dever de trabalhar para fortalecer a diversidade e a inclusão. 

Em uma sociedade extremamente desigual como a brasileira, a atuação de diferentes frentes é necessária para que os problemas sejam resolvidos. Dessa forma, o terceiro setor exerce um papel fundamental. É preciso que as organizações trabalhem como mobilizadoras, buscando ações de outros atores sociais. 

Quando a estrutura do terceiro setor reflete as instituições privadas, mantendo em sua maioria homens brancos em cargos de liderança, fica nítida a falta de representatividade. Isso é bastante prejudicial.

Em primeiro lugar, é preciso ouvir as partes afetadas para que os projetos sociais sejam construídos da melhor maneira. Sem a presença de pessoas negras nas equipes, por exemplo, essa dimensão se perde. 

Outro fator importante são os acessos a apoio e financiamento, fundamentais para que as ações construídas tenham impacto. Muitas vezes, as organizações que refletem a estrutura já conhecida, alcançam mais reconhecimento. Enquanto isso, iniciativas comandadas por pessoas negras encontram mais dificuldades de avançar.

O fortalecimento da diversidade, dentro e fora das organizações, é essencial para que as ações do terceiro setor sejam mais assertivas. Para promover a equidade racial é necessário que pessoas negras participem das discussões e tenham poder de decisão.

Ações que o terceiro setor deve fortalecer

O terceiro setor precisa se posicionar de maneira cada vez mais efetiva pela equidade racial. Para promover essa equidade dentro e fora das organizações, é preciso cuidar e considerar alguns fatores. 

Promover parcerias com instituições negras

As parcerias são parte importante do sucesso de uma organização. Sabendo que instituições lideradas por pessoas negras têm menos acessos, esse contato é importante para seu fortalecimento. 

Promover ações em conjunto ou auxiliar na busca pelo financiamento são algumas atitudes possíveis. O terceiro setor como um todo deve apoiar essas organizações.

Cuidar da interseccionalidade

Perceber como as diferentes estruturas sociais afetam a vida de vários grupos também é importante. Essa lógica deve ser levada em consideração na construção dos projetos e na contratação de talentos. 

Para construir a equidade racial, é essencial pensar nos diversos problemas que atingem as pessoas negras. As ações pensadas precisam levar em conta diferentes fatores. 

Se a interseccionalidade não fizer parte da atuação da organização, será mais difícil propor soluções efetivas. E essa construção começa a partir dos colaboradores, que também precisam entender essa dimensão.

Fortalecer a visão sistêmica

É importante entender o todo, tendo a visão sobre onde as ações do terceiro setor se encaixam. Para que o impacto do trabalho seja real, diferentes setores precisam se integrar. 

Portanto, as organizações de terceiro setor devem analisar como potencializar seus esforços pela equidade racial. Isso acontece com o fortalecimento dessa visão sistêmica. 

Promover o pertencimento

Para aumentar a diversidade internamente, o sentimento de pertencimento deve ser uma prioridade. 

O ambiente das organizações precisa ser receptivo para pessoas negras. Ou seja, é essencial oferecer respeito, cuidado e boas condições de trabalho. 

Pensar no desenvolvimento de pessoas diversas também é um ponto-chave. Dentro das instituições, é importante que os talentos encontrem oportunidade de crescimento. Assim, é possível fortalecer a presença de pessoas negras como lideranças no terceiro setor.  

Trabalhar a sensibilização 

Cuidar para que todos os profissionais envolvidos pelas ações estejam conectados com a causa também faz diferença.

 As pessoas precisam estar preparadas para entender o impacto do trabalho construído. Além disso, precisam compreender o que os grupos auxiliados enfrentam. Dessa forma, elas serão capazes de ampliar o olhar sobre diferentes realidades.

Para que isso aconteça, as organizações devem fornecer informações sobre os grupos afetados e os impactos das ações.

O terceiro setor tem um papel central para que a promoção da equidade racial se fortaleça. A Singuê trabalha junto com diferentes instituições, que estão engajadas em promover a diversidade. Se a sua organização também está comprometida pela equidade racial no terceiro setor, conheça o trabalho da Singuê.