Apesar de a maioria da população brasileira ser negra, o preconceito racial ainda é comum e se manifesta de diversas formas. Uma delas é o chamado racismo institucional, uma forma de discriminação resultado de séculos de opressão contra grupos étnicos minorizados no país.

O termo é bastante utilizado na denúncia de casos de racismo em empresas e outras organizações. Então é possível que você já tenha ouvido esse termo. Mas isso não significa que o assunto seja abordado tanto quanto deveria. 

Hoje, a população negra sofre com maiores taxas de desemprego e ocupa a maior parte dos postos de trabalho informais. Além de ser minoria nos cargos de liderança. Segundo o IBGE, pessoas negras ainda ocupam menos de 30% dos cargos gerenciais no Brasil, mesmo sendo 55,9%. Tudo isso coloca negros e negras em uma posição de maior insegurança para denunciar casos de racismo nas instituições.

Por isso, precisamos entender o que é racismo institucional e debater esse assunto nas organizações em que atuamos. A seguir, vamos mostrar a definição desse tipo de preconceito e como agir para combatê-lo. Confira!

O que é racismo institucional?

Para Stokely Carmichael e Charles Hamilton, ativistas dos Panteras Negras, o racismo institucional pode ser definido como “a falha coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado e profissional às pessoas devido a sua cor, cultura ou origem étnica”.

De forma resumida, podemos afirmar que o racismo institucional é caracterizado pela diferença de tratamento entre pessoas brancas e pessoas racializadas dentro das instituições, sejam elas públicas ou privadas.

Esse tipo de racismo é uma forma de preconceito muito comum nas empresas. Tanto contra seus funcionários quanto contra prestadores de serviço, parceiros e até mesmo clientes.

Nas organizações privadas, essa forma de discriminação impede que pessoas negras (e de outras etnias) consigam avançar na carreira. Uma vez que, mesmo aquelas chamadas para trabalhar, acabam ocupando cargos com salários mais baixos e têm pouco reconhecimento.

Além disso, o racismo institucional pode dificultar o acesso a serviços públicos, como educação, saúde, transporte, entre outros. Tudo isso impacta no mercado de trabalho. Já que sem essas condições mínimas, a população negra tem muito mais dificuldade de encontrar emprego e se manter trabalhando.

Qual o impacto do racismo institucional?

Todos esses obstáculos impostos à população negra no Brasil levam a uma série de disparidades. Um relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançado no final de 2021, por exemplo, mostrou que negros e negras são a maioria dos desempregados no país. Além disso, a diferença média de rendimentos mensais de brancos e pretos ou pardos ultrapassa R$ 1.200,00.

Entre outros motivos, a diferença de rendimentos pode ser explicada pelo fato de que negros ocupam funções menos valorizadas. São cargos com grande informalidade e baixos salários, como resultado do racismo institucional. Hoje, as áreas que mais empregam a população negra são a agricultura, construção civil, comércio e serviços domésticos.

Por outro lado, o levantamento mostrou que cargos de maior escolaridade e que pagam melhor costumam ser ocupados por brancos. Áreas como tecnologia da informação, educação, administração pública e saúde, por exemplo, são majoritariamente brancas.

Mas o acesso à educação não é o único obstáculo para o acesso de pessoas negras. Mesmo quando ambos profissionais têm ensino superior, os brancos costumam ganhar 69,5% a mais do que os negros.

Todo esse sistema de opressão e negação de direitos faz com que as pessoas negras sejam mais afetadas pelas crises econômicas e sociais. Durante a pandemia do Covid-19, por exemplo, a taxa de mortalidade foi 1,5 vezes maior para negros e negras. Isso também é resultado do racismo institucional, que impede grupos étnicos minorizados de acessarem serviços de saúde, entre outros fatores.

Como o racismo se manifesta nas empresas?

Como você viu, estamos falando de um conjunto de fatores que oprimem pessoas negras em nosso país. Mas esses dados ilustram apenas o resultado dessa discriminação. Por isso, vamos mostrar como o racismo institucional se manifesta no cotidiano das empresas.

No dia a dia do mercado, o racismo se reflete na baixa contratação de profissionais negros, por exemplo. Seja por preconceitos explícitos ou formas mais sutis de discriminação, muitas pessoas negras são excluídas já nessa etapa. Como já explicamos por aqui, existem vieses inconscientes que prejudicam muitas vezes candidatos pretos.

Há uma tendência das empresas, por exemplo, de exigirem muitas qualificações nos processos seletivos. Mesmo que a maioria nem seja realmente necessária ao cargo. Isso privilegia pessoas mais ricas e, em geral, brancas, que tiveram mais oportunidades do que as negras.

Ao mesmo tempo, também existem obstáculos para negros conseguem ocupar cargos mais altos nas empresas. Mesmo depois da contratação, há empresas que oferecem salários mais baixos para negros e negras. Ou então que privilegiam colegas brancos em oportunidades de promoção. A justificativa, na maioria das vezes, não é explícita. Mas ignora os desafios que a população enfrenta no dia a dia por ter menos acesso a direitos.

Além disso, é comum pessoas negras relatarem que precisam mostrar muito mais competência do que os colegas brancos para conseguirem aumentos ou promoções. Isso porque são constantemente desvalorizados e testados pelos gestores, que não confiam em sua capacidade.

Como combater o racismo institucional?

Após entender como o racismo institucional afeta o mercado de trabalho, chegou a hora de descobrir como combatê-lo. Obviamente, estamos falando de um sistema complexo, que afeta diversos setores da sociedade. Então, não é fácil colocar um fim nesse tipo de discriminação. Mas sua empresa pode contribuir, promovendo um ambiente de trabalho mais inclusivo.

Elabore uma estratégia antirracista

Em primeiro lugar, é importante entender que promover a diversidade étnico-racial nas empresas envolve uma estratégia mais ampla. Ações insoladas não são suficientes para dar conta de um problema tão complexo. Por isso, sua empresa precisa compreender profundamente os motivos pelos quais vai investir em inclusão e quais os impactos desse esforço na organização.

Esse movimento envolve um estudo aprofundado do negócio e da equipe, para compreender as demandas e lacunas que existem hoje na empresa. Só assim será possível construir ações que tenham impacto efetivo na promoção da equidade.

Crie programas de inclusão

O primeiro passo para combater o racismo é entender de que forma a organização está reproduzindo práticas excludentes. Por isso, é importante criar uma política de diversidade antirracista, que investigue as ações da sua empresa e veja o que pode ser melhorado.

Além disso, o programa pode servir para a educação de toda a equipe, desenvolvendo ações de conscientização e criando uma cultura organizacional diversa. Ao mesmo tempo, pode ajudar a estabelecer normas para lidar com práticas preconceituosas dentro da organização.

Em paralelo, instigar a criação de grupos de afinidade, por exemplo, também pode ajudar os profissionais negros a se sentirem mais acolhidos e discutirem os temas relativos à igualdade racial no trabalho.

Adote ações afirmativas

Você já deve ter ouvido falar sobre ações afirmativas no ensino superior, mas saiba que essa prática não se limita às universidades. Da mesma forma que o racismo institucional atrapalha o acesso das pessoas negras e indígenas à educação, essa forma sistemática de discriminação também as impede de entrar no mercado de trabalho formal.

Ou seja, nada mais justo do que promover também ações desse tipo nas vagas de emprego. Nos concursos públicos, por exemplo, você já encontra reserva de vagas para candidatos negros. Nas instituições privadas, também está cada vez mais comum encontrar esse tipo de prática de recrutamento inclusivo.

Ofereça apoio

Como você viu, o racismo institucional impede que muitas pessoas negras acessem serviços básicos, como saúde, educação e transporte, por exemplo. Isso significa que uma empresa realmente inclusiva precisa oferecer condições para que o profissional exerça sua função adequadamente.

Plano de saúde, auxílio creche, home office e políticas de saúde mental, por exemplo, podem parecer benefícios simples para colaboradores brancos de classe média. Mas são determinantes para profissionais negros, em muitos casos. 

Oferecer flexibilidade e um bom pacote de benefícios faz toda a diferença para que esses talentos possam oferecer seu melhor desempenho para a empresa. Além de contribuir para reforçar o senso de pertencimento na equipe.

Invista na formação de lideranças negras

Por último, é importante reforçar que a formação de lideranças negras vai fazer toda a diferença para uma organização que deseja ser, realmente, diversa. Como você viu, ser antirracista não significa apenas contratar pessoas pretas, mas dar a elas a oportunidade de se desenvolverem ao máximo em suas funções.

Por isso, criar programas de formação de lideranças focadas em grupos minorizados vai ajudar sua empresa a promover a diversidade étnico-racial em todos os níveis. Além disso, mentorias e programas de coaching podem orientar os profissionais de maneira mais personalizada e aprofundada, com grandes impactos em suas carreiras. 

Assim, com esforços combinados, sua empresa pode assumir um compromisso antirracista e ajudar a transformar toda a sociedade. 

Gostou dessas dicas? Então continue se aprofundando com nosso artigo sobre Liderança negra e a sua importância para as organizações!