A meritocracia nas empresas está baseada na ideia de que a prosperidade profissional e econômica de cada indivíduo acontece a partir do seu próprio mérito. Essa cultura é adotada por muitas empresas brasileiras e em países do hemisfério Norte. Para os seus defensores, ela oferece horizontalidade às relações no ambiente de trabalho. 

Porém, na realidade isso não acontece. Apesar de possibilitar reconhecimento às pessoas que não possuem favoritismo com as lideranças, a meritocracia propaga o reforço de desigualdades

Isso ocorre porque nem todos estão no mesmo ponto de partida. Segundo o IBGE, o número de pretos e pardos na faixa da pobreza é o dobro do que de brancos. Isso demonstra que a pobreza continua hereditária no país. 

Até o final do século 19 o Brasil mantinha como principal mão de obra o trabalho escravizado de negros e indígenas. Após a abolição da escravatura em 1888, eles continuaram a compor a maior parte da população pobre e marginalizada do país. 

Então, como é possível a existência de oportunidades igualitárias em um país em que a desigualdade racial e social ainda é tão presente? É possível que a trajetória de um indivíduo não seja influenciada por questões econômicas, políticas e culturais? 

Continue lendo esse artigo para compreender o que é meritocracia, como a meritocracia nas empresas é aplicada e qual a importância de promover a equidade para construir ambientes diversos e inclusivos. 

O que é meritocracia?

A meritocracia diz respeito à concepção de que o desenvolvimento social e econômico de uma pessoa é alcançado através do seu esforço individual. Todas as conquistas em sua vida seriam resultados do seu merecimento. 

Esse modelo foi criado a partir dos fundamentos da ideologia política do liberalismo econômico. Ou seja, uma ideologia que tem como premissa a não interferência do Estado sobre a economia. Para os liberais, o mercado é responsável por se autorregular. 

A meritocracia é uma ideia que vai se consolidando ao longo do desenvolvimento da sociedade moderna, após o rompimento com a premissa de que os governantes (reis, imperadores) eram representantes máximos de Deus na terra. 

É em 1958 que o conceito é desenvolvido através do livro “Rise of the Meritocracy” (A Ascensão da Meritocracia). O sociólogo e político inglês Michael Young, apresenta uma sociedade onde as pessoas seriam avaliadas apenas pelos seus méritos ao longo da vida.

Entretanto, mesmo na sociedade fictícia de Young, as desigualdades e hierarquias foram acentuadas ao aplicar o método da meritocracia.

4 maneiras de como a meritocracia nas empresas pode afetar grupos minorizados 

Em organizações em que o pensamento meritocrático é implementado, acredita-se que todos teriam mais oportunidade de crescimento. Com isso, o colaborador seria mais comprometido. Desse modo, o esforço empregado será recompensado com promoções e avanços na carreira. 

Entretanto, como explicamos anteriormente, não é possível falar em mérito individual em uma sociedade em que direitos históricos continuam sendo negados. Uma pesquisa revelou que em São Paulo, a maior cidade do país, 70% das pessoas em situação de rua são pardas ou pretas. 

Para o professor da UNICAMP, Sidney Chalhoub, a meritocracia contribui para manter a desigualdade social e racial. Acreditar que a teoria possui valor universal é um mito. “Fica parecendo que a meritocracia partiu de uma definição abstrata, excluída das circunstâncias sociais e materiais de vida das pessoas”, diz o historiador.  

Veja como a meritocracia nas empresas pode contribuir para o desequilíbrio entre colaboradores: 

  1. Desigualdade salarial

Quando a meritocracia faz parte da cultura organizacional é mais difícil para grupos minorizados alcançar salários mais elevados. A competição entre pessoas que não possuem as mesmas oportunidades educacionais e financeiras não é equilibrada.

  1. Desmotivação

Pessoas com privilégios econômicos possuem mais chances de ascensão na carreira. Isso pode levar a desmotivação no trabalho de pessoas cujo perfil social é constantemente desvalorizado. 

  1. Preterimento de mulheres mães

Mulheres enfrentam muitas dificuldades no trabalho ao se tornarem mães. Um estudo realizado pela FGV, concluiu que, após 24 meses, quase metade das mulheres que tiraram a licença-maternidade foram demitidas.

  1. Racismo institucional

Questões culturais e as normas sociais influenciam na percepção de mérito e no favorecimento de uma categoria. O racismo institucional ainda é um dos grandes entraves para o acesso de negros e indígenas em cargos de liderança, por exemplo. 

A importância da equidade para a inclusão no mercado de trabalho

A equidade é um dos pilares na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. No ambiente de trabalho, promovê-la colabora para que as oportunidades estejam acessíveis para todas as pessoas. Isso acontece, pois são consideradas as particularidades como gênero, raça, classe, entre outras. 

Políticas de equidade, como ações afirmativas, são responsáveis pelo impacto positivo do aumento de pessoas diversas no ensino superior e nas organizações. Ela transforma a realidade de grupos historicamente oprimidos. 

Para uma cultura de negócios mais justa e produtiva, a gestão de pessoas pode adotar as seguintes medidas:

  • Faça um diagnóstico da situação interna da empresa e verifique as discrepâncias, como renda variável entre pessoas que possuem o mesmo cargo;
  • Estabeleça metas e indicadores de DEI (diversidade, equidade e inclusão);
  • Comunique a equipe sobre as mudanças que serão implementadas e solicite a colaboração de todos;
  • Tenha uma ouvidoria ativa e concretize ações para mudanças efetivas;
  • Modifique a linguagem utilizada em canais de comunicação, materiais técnicos e no dia a dia, para que ela se torne mais inclusiva;
  • Incentive as diferentes perspectivas e ideias, estimulando a criatividade e o surgimento de ideias inovadoras;
  • Mantenha uma carga de trabalho que não prejudique as relações familiares dos colaboradores e que eles possam se sentir motivados;
  • Adote programas de treinamento para quem não teve oportunidades de acesso a tecnologias e outros idiomas, por exemplo. 

Confira as vantagens na consultoria em DEI

Retenção de talentos

A consultoria especializada em diversidade, equidade e inclusão ajuda as empresas na retenção de talentos inovadores, essenciais para negócios que desejam alcançar mercados mais competitivos. 

Fortalecimento da reputação da marca

A sociedade acredita que as instituições também são responsáveis pela diminuição das desigualdades sociais. Além disso, aquelas que investem em grupos minorizados são vistas como modernas e que estão dedicadas a construir um futuro diferente para todas as pessoas.

Promove o sentimento de pertencimento

Colaboradores que se sentem acolhidos pelas lideranças e que observam chances reais de mudanças são mais proativos e mais unidos. Isso gera maior sentimento de pertencimento na equipe. 

Maior retorno financeiro

Há cada vez mais evidências da lucratividade da diversidade para as empresas. Da mesma maneira, ter uma equipe diversa propicia com que a equipe compreenda melhor as necessidades e expectativas do público consumidor. 

A Singuê tem um importante papel na construção de mercados socialmente mais justos e estrategicamente mais valorizados. Acreditamos que ações concretas são capazes de transformar a realidade de grupos diversos. 

Ao mesmo tempo, é necessário o compromisso das lideranças para isso. Oferecemos processos facilitadores que potencializam esse caminho de mudanças e revolução para a sociedade e para os negócios. 

Confira como é nossa atuação e conte conosco para essa frente colaborativa.