Segundo os últimos estudos demográficos da população feitos pelo IBGE, o Brasil é formado por mais de 50% de mulheres, 54% pessoas negras e 8,4% PCD. E não podemos esquecer que somado a tudo isso há os elementos que se interseccionam. Isto é, orientação sexual, questões de identidade de gênero, religião e outros fatores culturais.

No entanto, em ambientes corporativos a representatividade desses grupos não é tão expressiva quanto poderia ser. Ainda sobre o estudo Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil (IBGE), apenas 54,5% das mulheres estão presentes na força de trabalho em comparação a 73,7% dos homens. Assim como, em indicadores sobre desigualdade racial, somente 29,9% de pessoas negras ocupam cargos gerenciais contra 68,6% de pessoas brancas.

Cenários como estes nos fazem questionar o porquê dessa diferença ainda ser vigente. Um bom começo é entender que para ter uma mudança real na cultura da organização, é necessário encarar a representatividade como um pilar das políticas de diversidade, equidade e inclusão.

A importância da discussão sobre representatividade

Quando falamos em diversidade e representatividade, logo vem à mente os movimentos LGBTQIAP+, reivindicações de genero e debates sobre questões etnico-raciais. No geral, muitos desses grupos acabam nos marcando por pautas de suas lutas sociopolíticas. Pautas, diretamente ligadas a falta de representatividade dessas pessoas em nossa sociedade.

A importância desse tema ser discutido dentro e fora das organizações encontra-se no fato desses grupos estarem excluídos de diversos setores da vida social e política. Eles não estão representados no espaço público, na política, nas narrativas de prestígio social, nos filmes e muito menos em cargos de poder.

Desta forma, se uma liderança se propõe a falar de diversidade na empresa e busca por mudanças, deve se atentar à representatividade demográfica brasileira dentro do seu ambiente corporativo.

O que significa ter representatividade na empresa?

Representatividade é encontrar nos arranjos sociais figuras que representem os interesses de um determinado grupo. Ela faz parte da formação do sujeito, da sua subjetividade e identidade.

A representatividade significa para o indivíduo a possibilidade de se enxergar como parte integrante do grupo e da sociedade.

Na empresa, a representação diz respeito à presença de PCDs, pessoas, LGBTQIAP+, homens e mulheres negras nos processos seletivos. Significa ser parte do corpo profissional atuante em variados cargos.

Além disso, ter uma equipe com diferentes perfis de colaboradores é proporcionar abertura para diferentes pensamentos, culturas, etnias, opiniões e experiências que permitem tornar a empresa mais plural e democrática.

No entanto, diversidade e  representatividade na empresa vão muito além de pequenas ações afirmativas.

Proporcionalidade e demografia: por que a representatividade nas empresas deve ir além do mínimo necessário?

Diversidade, equidade e inclusão nos ambientes corporativos ainda não caminham na mesma proporção. Por conta de inúmeras barreiras existentes no mercado de trabalho, ligadas a preconceito racial, machismo, lgbtfobia e a falta de políticas afirmativas para PCD’s. A representatividade nas empresas desses grupos não se dá na mesma proporção da sua expressão fora da organização.

Se a representatividade garante a perspectiva de mulheres negras, pessoas trans e PCD ocuparem o mercado. Quando falamos de proporção estamos discutindo a inclusão real dessas pessoas dentro desses espaços com condições efetivas para que mais deles tenham oportunidades de fazer carreira e liderar.

A proporcionalidade é a ação específica para a inclusão desses grupos. Usando da ferramenta interseccional como estratégia para possibilitar que novos colaboradores diversos entram e permaneçam na empresa.

A representatividade nas empresas está em desequilíbrio

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, elaborada pelo IBGE, nos mostra que 67% da população com alguma deficiência possui uma lacuna no processo de formação educacional. Afetando diretamente no acesso dessa população ao mercado de trabalho, onde somente 28% dela encontra-se ativa.

Assim como, a taxa de participação na força de trabalho de mulheres negras também é a mais baixa, 53,5% e apenas 0,4% ocupam cargos executivos. Com os menores rendimentos, recebem menos da metade do que os homens brancos (44,4%).

A partir desses dados é possível compreender que a representatividade nas empresas pelos grupos sub-representados deve ser uma cobrança constante. Com ações afirmativas que ultrapassem a linha do mínimo necessário para, de maneira efetiva, transformar os espaços de poder e influência.

Diferente do que possa parecer, a transformação da sua empresa causa impacto direto com todo o contexto fora do ambiente organizacional.

As desiguais condições de trabalho estão ligadas a desiguais oportunidades de acesso à educação, a falta de representação política e uma série de questões estruturais com pouca ação afirmativa conjunta. A importância de se pensar em representatividade e proporcionalidade nas empresas é justamente romper com essa estrutura.

Como aumentar a representatividade na empresa?

1.Busque por talentos diversos em novos lugares: ofereça recrutamento mais acolhedor

Tenha uma equipe de RH preparada para pensar em um recrutamento com processos mais inclusivos e que acolham a diversidade.

É muito importante abrir portas e diminuir barreiras para o acesso de perfis plurais. Mas para dar um passo além, a empresa deve buscar esses novos talentos em ambientes de diversidade. Oferecer vagas de trabalho e colocar a publicidade da empresa onde de fato os grupos minorizados circulam.

2. Tenha uma gestão focada na diversidade : evite o Diversitywashing

Um dos maiores erros cometidos por diversas organizações é apoiar-se somente no discurso da diversidade, mas internamente, a pluralidade não faz parte do dia a dia dos empregados. Além de não ter uma gestão comprometida a elaborar ações efetivas e inclusivas.

Evite que sua empresa tenha uma gestão diversitywashing, que se utiliza da diversidade apenas como marca.

3. Seja transparente com seus colaboradores e clientes da sua marca

Cada vez mais as pessoas estão engajadas e atentas às atitudes e propósito das marcas em relação a questões de diversidade, equidade e inclusão. Empresas que decidem ignorar essas pautas, podem colocar em risco seu crescimento e permanência no mercado.

A melhor estratégia a fazer é ser transparente com as práticas de diversidade da empresa. E de fato mover-se a mudança, saindo do lugar do discurso.

4. Ofereça treinamento, como o programa de Aceleração de Carreiras da Singuê, para os colaboradores que já atuam na sua empresa

A “Diversity Matters” divulgou que apenas 11% dos cargos executivos são ocupados por mulheres na América Latina.

Como dissemos, mais do que integrar as pessoas é importante oferecer estabilidade e crescimento. Ofereça treinamento aos profissionais diversos e dê possibilidade para que eles se desenvolvam dentro da empresa. Para que assim possam atingir cargos de liderança, gerenciamento e executivo.

Conheça outras formas práticas de criar ações de diversidade e inclusão na sua empresa para começar a promover de maneira mais efetiva a mudança, lendo este nosso outro artigo: “8 formas práticas de criar ações de diversidade e inclusão nas empresas”.