Aliás, essa luta não vem de hoje. É uma mobilização histórica de movimentos feministas, que foram conquistando espaço aos poucos. O direito de participar em decisões políticas, trabalhar sem a permissão do marido e ocupar determinadas funções chegou para as mulheres brasileiras apenas no século passado. Mesmo assim, ainda há um longo caminho pela frente, principalmente quando falamos de mulheres negras, por exemplo.

Quer entender como construir empresas comprometidas com a superação dessas desigualdades? A seguir, vamos explicar o que é diversidade de gênero, aprofundar sua importância e dar dicas práticas para promover a equidade. Boa leitura!

O que é diversidade de gênero?

A diversidade de gênero busca a paridade entre homens, mulheres e pessoas de outras identidades nas organizações e nos cargos de liderança. A inclusão das mulheres no mercado de trabalho formal é uma conquista do movimento feminista. Mas ainda não foi suficiente para diminuir as lacunas que existem em comparação com os homens.

Atualmente, as brasileiras ganham, em média, 77% do salário masculino para exercer as mesmas funções, segundo o IBGE. Além disso, elas ocupam apenas 37,4% das funções gerenciais, mesmo sendo mais da metade da população brasileira.

A situação fica ainda mais grave quando abordamos a intersecção entre raça e gênero. De acordo com o IBGE, mulheres negras recebem 57% menos do que homens brancos e 42% menos que mulheres brancas.

Ao mesmo tempo, gênero não é apenas um sinônimo para “mulheres”. Quando falamos sobre esse tipo de diversidade, é importante que elas sejam incluídas (tanto cis quanto trans). Mas sem esquecer de outros grupos, como pessoas não-binárias e homens trans, que sofrem formas específicas de preconceito por causa de suas identidades de gênero.

Hoje, grande parte da população trans está excluída do mercado de trabalho formal por causa disso. Infelizmente, ainda existem poucas estatísticas oficiais sobre emprego e renda para esse grupo. Mesmo assim, uma pesquisa da Secretaria Municipal de Direitos Humanos de São Paulo, por exemplo, mostrou que apenas 27% das pessoas entrevistadas têm emprego com carteira de trabalho assinada.

Importância da diversidade de gênero

Como você viu, as lacunas de gênero estão bastante presentes no mercado de trabalho e, inclusive, foram agravadas pela pandemia do Covid-19. Um relatório do Fórum Econômico Mundial indica que a crise gerada pela doença atrasou em 136 anos a paridade entre homens e mulheres no mundo. Em 2020, antes da pandemia, a previsão era que a igualdade fosse alcançada em 99 anos.

Outra pesquisa da Organização Internacional para o Trabalho (OIT) aponta que 4 milhões de mulheres ainda não conseguiram retornar para o mercado de trabalho após a pandemia. Esses indicadores mostram como a desigualdade impacta na vida das mulheres. E porque é importante que as empresas atuem para combatê-la.

Na prática, empresas preocupadas com a diversidade de gênero conseguem construir uma cultura organizacional com mais respeito e melhores condições de trabalho. Nesses espaços, há maior retenção de talentos, mais produtividade e equipes mais criativas. Pois conseguem agregar diferentes vivências dentro de um mesmo time. Essas conclusões são do relatório Women in Business and Management: The Business Case for Change (Mulheres nos Negócios e Gestão: O Case de Negócios para a Mudança), produzido em 2019 pela OIT.

Outra vantagem é que essas organizações têm maior lucratividade. De acordo com uma análise do banco Credit Suisse, empresas com pelo menos uma mulher entre os executivos são, em média, 26% mais produtivas do que aquelas que não tem nenhuma.

Como implementar nas empresas

Agora que você viu como a diversidade de gênero é importante, chegou a hora de colocar em prática ações para um ambiente de trabalho mais justo. A seguir, reunimos algumas dicas que podem ajudar.

Implemente salários iguais

Um dos primeiros passos para uma empresa alcançar a paridade de gênero é a igualdade salarial. Como você viu, mulheres ganham em média 77 centavos para cada real que um homem recebe. Então se a organização em que você atua não tiver um mapa de salários, fazer esse levantamento é fundamental.

Depois, é importante verificar se há discrepâncias entre o salário dos homens e de demais profissionais. Se houver, prepare um plano para adequar os valores e garantir que todos estejam recebendo remunerações justas pela função que exercem.

Combata o assédio

Outra ação importante para garantir um ambiente seguro e plural é o combate ao assédio moral e sexual. De acordo com uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão, 40% das participantes afirmaram que já foram xingadas ou ouviram gritos em ambiente de trabalho, contra 13% dos homens. Além disso, 12% das entrevistadas sofreram agressões sexuais no trabalho.

Por isso, criar um canal de denúncias que preserve a identidade das vítimas e saiba acolhê-las é fundamental para uma empresa que preza pela diversidade. Além disso, fazer campanhas de conscientização, palestras, dinâmicas e outras atividades também ajuda a prevenir esse tipo de situação.

Abra espaços de discussão

Aliás, espaços de diálogo aberto e transparente são uma prática bastante eficiente para empresas que buscam a diversidade. Ter conversas produtivas entre os times, com informações bem embasadas e uma condução responsável ajuda a derrubar barreiras que poderiam impedir denúncias. Assim como auxiliam na educação de toda a equipe, principalmente contra os vieses inconscientes, preconceitos sutis que acabam atrapalhando na inclusão.

No mesmo sentido, criar grupos de afinidade para mulheres, pessoas trans e mães, por exemplo, podem ser formas de incentivar o fortalecimento dessas colaboradoras e colaboradores.

Acolha a maternidade (e a paternidade)

Um elemento que afasta muitas mulheres do mercado de trabalho formal ainda é a falta de inclusão para mães. Por isso, empresas que buscam a diversidade de gênero precisam se preocupar com isso.

É claro que os pais também são responsáveis pelas crianças. Mas pesquisas mostram que são as mães que enfrentam as maiores dificuldades no mercado de trabalho. Por isso, é importante oferecer creche ou auxílio-creche para as funcionárias. Assim como uma licença maternidade que as permita ficar o tempo necessário com o bebê após o parto. Sem o risco de ser demitida poucos meses depois do retorno.

Estimule a liderança feminina

Outro problema grave enfrentado pelas mulheres está na dificuldade para ocupar cargos de gestão. Como mostramos, elas estão em apenas 37,4% dos cargos gerenciais. E, quanto mais alta a função, maior a dificuldade de ocupá-la.

Por isso, é importante que as empresas trabalhem ativamente para incentivar a diversidade de gênero nos cargos de chefia. Não só para mulheres, mas para todas as pessoas trans da equipe. Programas específicos de desenvolvimento de lideranças, por exemplo, são boas opções.

Além disso, é importante que os critérios para promoções estejam disponíveis para toda a equipe, de forma transparente. E sejam sensíveis a aspectos ligados à diversidade.

Atualize os métodos de recrutamento

Por último, vale lembrar que os recrutamentos são um dos fatores mais importantes para garantir a diversidade na sua equipe. Essa é a porta de entrada na empresa e precisa ser acolhedora.

Um relatório do Linkedin mostra que as mulheres se candidatam para 20% menos vagas do que os homens. O motivo, em geral, é que elas sentem que precisam preencher todos os requisitos. Enquanto eles são menos perfeccionistas nesse quesito. Mas não se trata apenas de uma questão comportamental. É o resultado de um mercado que desestimula muitas mulheres.

Por isso, avalie bem as competências que estão sendo exigidas no processo. Será que são realmente relevantes para a vaga? Deixe apenas o que for mesmo necessário e encoraje mulheres e grupos minorizados a se inscreverem. Também faça uma busca ativa e considere abrir vagas exclusivas para mulheres em áreas nas quais elas são menos representadas.

Com ações desse tipo, você pode caminhar para reduzir, aos poucos, a desigualdade e promover espaços mais justos. Gostou de saber mais sobre a promoção da diversidade de gênero nas organizações? Então acesse também nosso artigo sobre diversidade, equidade e inclusão!