Infelizmente, a falta de diversidade e inclusão na TI pode refletir em um mercado de trabalho que não considera a pluralidade de experiências e vivências presentes na sociedade em que vivemos. Fazendo com que dinâmicas opressoras e excludentes sejam perpetuadas também no campo tecnológico.

Numa perspectiva mais ampla e a longo prazo, a ausência de profissionais diversos na tecnologia, no contexto atual, pode causar um impacto nada positivo na hora de pensar em produtos que melhor atendam a população. Já temos visto isso na área de reconhecimento facial com IA.

Então, que tipo de futuro queremos para o mercado tecnológico no Brasil? Se a tecnologia é alicerce para a construção de um futuro confortável, para quem estamos construindo este futuro?

Neste artigo vamos falar sobre o cenário atual e os avanços da diversidade e inclusão na TI brasileira e por que é tão relevante dedicar atenção a este tema.

Diversidade e Inclusão na TI brasileira

Em novembro de 2021, a Think with Google lançou em suas redes o resultado da  pesquisa, “O que aprendemos sobre diversidade, equidade e inclusão na área de TI no Brasil” .

O estudo contou com 500 entrevistas quantitativas com colaboradores de tecnologia e de outras áreas para comparação.

O objetivo foi apresentar a realidade das empresas de tecnologia brasileiras. Segundo os dados obtidos, 71% dos profissionais entrevistados trocariam suas respectivas organizações por ambientes onde houvesse ações focadas em políticas de DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão).

Esses números não são surpreendentes já que o estudo mostra uma trajetória histórica de exclusão de grupos minorizados, sobretudo de  mulheres. Mas, as dificuldades e desafios também se estendem para pessoas negras, PCDs e comunidade LGBTQIAP+.

Em comparação a outros setores dentro de uma mesma corporação, diversidade e inclusão na TI é uma das mais baixas. Apresentando menores números em contratação e presença ativa. Baseando-se na pergunta “E quais grupos você acha que são menos incluídos nestas áreas?” tem-se as seguintes comparações:

  • 20% dos profissionais entrevistados acreditam que os grupos menos incluídos na TI são o de cor de pele;
  • 34% acredita que o grupo menos incluído é o de orientação sexual;
  • 19% disseram ser o grupo PCD;
  • 27% afirmou que o grupo menos incluído é o de gênero;

Já quando as perguntas é sobre a percepção dos colaboradores entrevistados, o estudo mostrou que:

  • 36% dos trabalhadores de TI apontam que a sua área é a menos diversa
  • 29% dos entrevistados de diferentes setores enxergam TI como o setor menos diverso da empresa

O cenário atual de TI no Brasil

Os desafios para se aplicar políticas efetivas de diversidade e inclusão na TI são expressivos. Pois, apesar de haver uma parcela de profissionais plurais presentes na TI brasileira, as adversidades para a permanência e melhor desempenho desses grupos são inúmeras:

1. Pouca representatividade e insegurança para mulheres na tecnologia

Além da representatividade de mulheres em cargos de liderança ainda ser baixíssima, sua capacidade e conhecimento são colocados à prova o tempo todo. Gerando desconforto e insegurança.

2. Forte preconceito e estereótipos sobre a comunidade LGBTQIAP+

Os estigmas e estereótipos sobre o comportamento e formação profissional de pessoas queers, gays, lésbicas e pessoas trans é forte. Ocasionando menos possibilidade de desenvolvimento na organização.

3. Falta de ações afirmativas para permanência e contratação de pessoas negras

Ainda são insuficientes as ações afirmativas que auxiliam a permanência e contratação de pessoas negras na tecnologia. Da mesma forma, o acesso a uma formação adequada ainda é reduzido, por conta de questões históricas e socioeconômicas.

4. Sem progressão no horizonte de profissionais PCD

Apesar de serem contratadas, pessoas com deficiência enfrentam um cenário sem horizonte para o seu crescimento profissional. Das mais de 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil (Censo (2010) apenas 46,9 mil foram contratadas em 2018. As informações são da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia,

Racialização do panorama

Engana-se quem se deixa levar pela narrativa da tecnologia neutra. Essa premissa apenas camufla uma realidade bastante desigual e preconceituosa. Por estarem tão presentes em nossas vidas, as tecnologias dão a impressão de serem neutras e democratizadas.

No entanto, a maneira como são inseridas em nossa sociedade estão carregadas de posicionamentos políticos, econômicos, culturais e até mesmo ético-moral daqueles que detêm o poder de produção. Quem detém o poder nesses ambientes são homens cis, brancos, heterossexuais e de classe média alta. Ou seja, da classe dominante que está muito distante da identidade da maioria da população brasileira.

A TI é um dos setores que mais crescem no mundo e cada vez mais representa oportunidades de emancipação econômica para muitos jovens negros.  Segundo a plataforma Glassdoor, é uma das carreiras mais bem pagas dos últimos anos.

Mas a ausência de medidas efetivas pró-diversidade e inclusão na TI, tornam o acesso desigual e inúmeras barreiras se colocam no caminho da população negra, principalmente de mulheres negras.

Mulheres negras na tecnologia brasileira estão expostas a ambientes de trabalho racistas e sexistas. Como dissemos um pouco mais acima, mulheres são mais pressionadas a provarem sua capacidade a todo tempo. Sob efeitos de um pensamento e visão estereotipada sobre gênero e raça, mulheres negras acabam por sofrer as consequências de um ambiente danoso como desenvolver ansiedade, por exemplo.

Além disso, a falta de profissionais na área de tecnologia  é uma grande questão no mercado de trabalho brasileiro. Em comparação a outras áreas de trabalho, o setor de tecnologia é um dos que mais sofrem.

A carência de diversidade e inclusão na TI acaba prejudicando o próprio preenchimento de talentos na área. Deixando empresas de tecnologia um passo atrás em relação às demandas do mercado tecnológico brasileiro.

Políticas de DEI na TI brasileira

Cada vez mais o mercado de trabalho tem exigido por parte das organizações, alinhamento com as pautas sociais. Um compromisso de compreender e atender às necessidades de todo um conjunto de pessoas, historicamente marginalizadas de seu direito como sujeito do poder social.

Nas últimas décadas, empresas de tecnologia vêm dando voz às percepções e reivindicações de seus colaboradores e colaboradoras. Atentando-se a necessidade de novos caminhos como uma etapa importante para impulsionar e transformar a diversidade e inclusão na TI.

Pois, é preciso reconhecer que existem problemas na cultura organizacional  da sua corporação para então conseguir direcionar ações efetivas que proporcionem soluções.

Ainda na mesma pesquisa feita pela Google sobre diversidade e inclusão na TI brasileira, já é possível notar que grande parte dos colaboradores de TI entendem os impactos de um ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo:

  • 98% das pessoas entrevistadas concordam que empresas focadas em políticas de DEI oferecem mais oportunidades de crescimento profissional aos seus colaboradores
  • 60% acreditam que os programas de DEI possuem um impacto alto ou muito alto na performance dos departamentos da corporação

Esses números nada mais são que o reflexo da importância que pautas e atitudes pró-diversidade e inclusão vem ganhando corpo e forma nos setores tecnológicos. E como a população da empresa —  entre colaboradores e lideranças —  se mostra disposta e engajada a mudar o panorama atual.

Conheça iniciativas do mercado

As mudanças já estão acontecendo. E alguns exemplos dessa transformação, são as iniciativas de organizações como:

PretaLab

O PretaLab é uma iniciativa criada pela empresa Olabi.  Criada em 2017, a PretaLab foi pensada para estimular a inclusão de mulheres negras e indígenas no universo da tecnologia. A iniciativa busca mapear e conhecer quem são as meninas e mulheres negras e indígenas que trabalham nessa área, apresentando referências positivas dessas identidades na tecnologia, nas ciências como campos possíveis e interessantes de atuação.

Com essa iniciativa a Olabi busca mostrar as consequências da falta de representatividade na área de tecnologia. Um problema não só para o ecossistema de tecnologia e inovação, mas para os direitos humanos e a liberdade de expressão.

Progra{m}aria 

A Programaria é uma iniciativa que ajuda mulheres a aprender programação, independente da área de trabalho. A ideia nasceu da compreensão de haver mulheres consumindo tecnologia, mas ausentes no processo de produção.

O objetivo é cada vez mais diminuir o gap de mulheres no mercado de trabalho, através do seu empoderamento e melhor acesso à tecnologia. Empoderar mulheres por meio da tecnologia.

Afropython 

A Afropython também entra no rol de iniciativas transformadoras, ao direcionar suas ações para um mercado de trabalho tecnológico mais inclusivo para pessoas negras.

É um movimento sem fins lucrativos, composto por profissionais de TI, Marketing e Comunicação voluntários que tem por objetivos oferecer oportunidade de inclusão e ascensão profissional de pessoas negras na área de tecnologia da informação.

Um evento para pessoas interessadas em tecnologia e programação, além de discutir questões sobre negritude.

Investindo em diversidade e inclusão na TI

Primeiramente, reconhecer que a tecnologia da informação tem proporcionado diversas formas de acessibilidade. O desenvolvimento de softwares capacitados a tornar as cidades cada vez mais inteligentes e dinâmicas para a população.

A evolução da tecnologia junto e sua grande transformação digital com fins de tornar a vida mais confortável, também devem estar alinhadas aos propósitos das empresas de TI em auxiliar no fomento a essa nova realidade social. Pois, a cultura organizacional reflete em muito a maneira como o contexto social é encarado.

Diversidade e inclusão na TI é sinônimo de criatividade e inovação

Elementos como: inovação, modernidade e futuro são constituintes imprescindíveis quando falamos em avanços na área de TI. Nada mais inovador do que diversidade no quadro corporativo de colaboradores.

E é por meio de uma equipe diversa e plural que soluções mais criativas de TI são elaboradas e potencializadas. Impulsionando o desenvolvimento das empresas, otimizando processos, reduzindo custos e melhorando a experiência do cliente.

Quanto mais diverso for a equipe, mais opções assertivas são desenvolvidas para as inúmeras demandas do mercado.

Maior coesão e conexão com o público-alvo

A diversidade de perspectivas e discursos permite que haja um entendimento mais preciso das demandas dos próprios consumidores. Fica muito mais fácil atingir e conversar com o público-alvo quando as pessoas que produzem são referências identitárias.

Uma empresa ciente da pluralidade da sua equipe e de seu público, consegue impactar positivamente e com mais qualidade. Compreendendo com mais profundidade as dores e exigências dessas pessoas. Oferecendo melhores soluções e estabelecendo vínculos reais e mais duradouros.

Aumenta e fortalece a força do setor tecnológico brasileiro

Num país como o Brasil, é fundamental pensar em medidas afirmativas que considerem a diversidade social e econômica. Não dá para fortalecer e melhorar o quadro de profissionais na TI brasileira, se grupos minorizados continuam sendo marginalizados dos processos de formação e acesso ao campo.

Aplicar políticas de diversidade e inclusão na TI possibilita o crescimento e a valorização de um setor mais preparado para enfrentar os reais desafios do mercado de trabalho brasileiro. Por ser um setor que mais sofre com a falta de profissionais, as políticas de DEI podem solucionar a falta no Brasil.

Agora que você já sabe mais sobre o panorama de diversidade e inclusão na TI brasileira, que tal conhecer como anda a cosciência racial no mercado de trabalho. Leia mais no artigo: Mês da consciência negra: quais os avanços e desafios da diversidade racial nas empresas.