Políticas de diversidade, equidade e inclusão ajudam a formar times mais completos e criativos, capazes de inovar e construir um negócio sólido. Mas esse caminho envolve muitos aspectos. Um deles, é a diversidade religiosa. Ainda que católicos e evangélicos sejam maioria da população, uma parte considerável do povo brasileiro celebra outras religiões ou não tem crenças.
Uma pesquisa do Datafolha divulgada no início de 2020 mostrou que seis religiões predominam no país: católica (50% da população), evangélica (31%), espírita (3%) e judaica (0,3%). Além disso, o estudo reuniu na mesma categoria diferentes religiões de matriz africana, como candomblé, umbanda e outras, que são praticadas por 2% dos brasileiros e das brasileiras.
Esses números, apesar de não abrangerem toda a diversidade de crenças que existem em um país como o Brasil, dão pistas para gestores que querem construir um ambiente de trabalho inclusivo. As práticas religiosas são parte da identidade e da subjetividade de muitos profissionais. Por isso, acolher diferentes religiões e combater toda discriminação são peças-chave para equipes realmente inclusivas e plurais.
O que é diversidade religiosa?
A diversidade religiosa pode ser definida como a capacidade de acolher em um mesmo ambiente diferentes credos e construir espaços inclusivos para todos que desejem professar sua fé.
A liberdade religiosa é garantida pelo inciso VI, do artigo 5º da Constituição Federal. De acordo com esse trecho, “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Além disso, a lei n° 7.716/1989, conhecida como “lei do racismo” proíbe qualquer tipo de discriminação baseada em raça, gênero ou religião. Inclusive nos espaços de trabalho.
Mesmo assim, os casos de intolerância religiosa ainda são uma realidade no país. De acordo com dados da Ouvidoria do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foram registradas mais de mil violações da liberdade de crença entre 2020 e 2021. Sem falar nos inúmeros casos que não são denunciados por medo de que a vítima ou instituição religiosa sofra represália.
Mas diante desse cenário, o que fazer para criar espaços mais tolerantes nas organizações? Neste texto, reunimos algumas ações que você pode colocar em prática.
Por que a religião é uma pauta importante?
A discriminação religiosa é uma realidade em todos os espaços e, no trabalho, a situação não é diferente. Muitas organizações, no entanto, ainda não exploram essa questão. Enquanto debates sobre questões de gênero, raça e sexualidade vêm se tornando mais comuns, a diversidade religiosa permanece pouco discutida.
Alguns líderes ainda têm resistência a abordar a questão, seja pela crença popular de que “política, religião e futebol não se discutem” ou porque entendem que se trata apenas de uma prática individual.
De acordo com a Religious Freedom & Business Foundation, uma organização que promove a liberdade religiosa, em 2020 haviam 775 iniciativas auto-organizadas de raça, gênero e outros grupos minorizados nas 100 maiores companhias dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, existiam apenas 38 ações desse tipo voltadas para discussões de diversidade religiosa.
Contudo, as manifestações religiosas fazem parte da rotina de muitos profissionais, seja na forma como se vestem, se alimentam ou fazem suas preces. Além disso, a espiritualidade é uma parte fundamental da forma como certas pessoas enxergam seus propósitos de vida e motivações, o que possui impacto direto no trabalho.
Promovendo a diversidade religiosa
Um espaço que respeita a diversidade e promove a inclusão pode aumentar a retenção de talentos, além de promover a inovação e a criatividade. Não sabe como começar? As ações de diversidade e inclusão que listamos a seguir podem ajudar.
1 – Comece a conversa
O primeiro passo para uma organização mais inclusiva passa por abrir o diálogo para as questões religiosas. Promover espaços de troca entre profissionais de diferentes crenças pode ser uma forma de iniciar uma cultura que privilegia a diversidade.
Mas tome cuidado: é importante que esses momentos sejam verdadeiramente inclusivos. Não basta abordar aspectos das religiões mais comuns no país, como a católica e a evangélica, e deixar que elas dominem toda a discussão. É fundamental que esses ambientes também sejam seguros para indivíduos de todos os credos e abordem questões das demais religiões.
Organizações que já deram passos nesse sentido promovem, por exemplo, encontros periódicos em que os profissionais conversam sobre suas crenças e como elas os ajudam a enfrentar dificuldades na vida pessoal e profissional.
Nesse caminho, os funcionários conseguem identificar semelhanças, mesmo em credos bastante diversos, e aumentar sua tolerância por diferentes religiões. Empresas como o Google, a Intel e o Paypal, por exemplo, já promovem grupos de afinidade em que funcionários podem dialogar sobre o assunto.
2 – Preste atenção nos detalhes
Promover a diversidade religiosa exige que a organização esteja atenta a detalhes que possam constranger ou isolar pessoas que possuem determinada crença. Alguns desses elementos incluem práticas relacionadas à alimentação, vestimenta e horários de oração.
Quer um exemplo? Certos grupos judeus seguem a dieta kosher, enquanto outras religiões também podem ter restrições ao consumo de carne. Nesses casos, a organização deve estar atenta para oferecer alternativas em coffee breaks e comemorações. Em outras situações, pode ser necessário também adaptar uniformes e possibilitar pausas para oração, entre outras mudanças.
Outro tipo de situação que pode gerar desconforto são as confraternizações. No carnaval ou outras datas, avise os funcionários para evitarem fantasias de teor religioso, como “fantasia de freira” ou “fantasia de muçulmano”. Também preste atenção à oferta de álcool e busque construir um ambiente confortável para quem não bebe por qualquer motivo, incluindo questões religiosas.
3 – Promova a educação
O respeito e a inclusão não acontecem de um dia para o outro. Mesmo que exista um movimento de mudança dentro da organização, é possível que algumas práticas discriminatórias permaneçam.
Por isso, é importante que a educação para a diversidade seja constante. Treinamentos, rodas de conversa, dinâmicas e outros métodos pedagógicos são fundamentais para conscientizar toda a equipe. A religião é um assunto de difícil abordagem e é possível que alguns profissionais tentem impor suas crenças a outros. Por isso, é fundamental discutir quais práticas são adequadas e como agir quando alguma situação delicada acontece.
4 – Respeite feriados e datas religiosas
Apesar de vivermos em um país laico, a maioria dos feriados oficiais no Brasil tem origem cristã. Mesmo assim, é necessário que a organização busque respeitar diferentes feriados e datas religiosas. Oferecendo folga remunerada para os profissionais que seguem essas crenças ou alguma forma de compensação.
Essa é uma das práticas que pode gerar certo desconforto, principalmente entre aqueles que não professam a mesma fé. Nesses casos, vale lembrar que já existem vários feriados religiosos garantidos para todos, como o Natal e a Páscoa. Portanto, profissionais de diferentes crenças têm o direito de ter suas datas sagradas respeitadas.
5 – Saiba como agir em situações graves
Mesmo uma organização que promove a inclusão e a educação para diversidade pode se deparar com situações de discriminação. Nesses casos, é importante reforçar que o respeito faz parte da cultura da instituição e tratar tais atitudes com seriedade.
Da mesma forma, lideranças e o time responsável devem tomar atitudes rápidas para reparar o dano naqueles profissionais que possam ter sido afetados. E precisam agir de forma efetiva para repreender comportamentos inadequados.
Para isso, a organização pode desenvolver uma política específica para ações de discriminação religiosa. Esse guia pode conter orientações sobre como agir nessas situações. Além de uma descrição das ações que não serão toleradas e como responder imediatamente nesses casos.
Por fim, é importante dizer que a discriminação religiosa pode estar ligada também a outras formas de preconceito. Então é essencial que sua organização promova a inclusão em todas as suas formas. Quer saber como? Leia o artigo: O que é diversidade étnico-racial e qual o papel do RH na inclusão de pessoas negras.