Ou seja, junto com ações práticas para combater o preconceito, uma empresa antirracista precisa compreender os impactos da discriminação na constituição do sujeito. Desde pequenas, pessoas negras e indígenas, por exemplo, sofrem com o preconceito da sociedade, que molda a forma como veem a si mesmas. Isso traz um sofrimento psíquico muito intenso, que pode acompanhar o indivíduo ao longo da vida.
Situações de racismo no ambiente de trabalho reforçam esses sentimentos de exclusão, autocobrança e inferioridade. Por isso, discutir a origem estrutural desse preconceito e combatê-lo no dia a dia é fundamental.
Neste artigo, vamos explicar um pouco mais sobre essa relação entre racismo e saúde mental e dar dicas para que a sua empresa construa uma cultura organizacional focada no bem-estar físico, psicológico e social. Confira!
O impacto
Quando falamos sobre racismo no trabalho, muitas vezes, discutimos os efeitos materiais dessa forma de discriminação. Salários mais baixos e maiores taxas de desemprego e informalidade, por exemplo, são indicadores muito usados. Tudo isso é muito importante, é claro, e precisa ser debatido. No entanto, os efeitos do racismo vão muito além.
Os salários mais baixos, o desemprego, a falta de oportunidades e o racismo institucional, que impede o acesso de pessoas negras aos seus direitos, juntam-se com aspectos mais subjetivos.
As representações limitantes de pessoas negras na mídia, raramente em posições de sucesso, e as formas mais “sutis” de racismo, por exemplo, também vão minando a saúde mental de negros e negras.
Sentimentos de rejeição
Tudo isso começa muito cedo. Na faixa etária de 10 a 29 anos, jovens negros tem 45% mais chances de cometer suicídio, segundo um estudo do Ministério da Saúde divulgado em 2018. A pesquisa aponta que sentimentos de rejeição, inferioridade e solidão, além de situações de negligência, violência e abuso são as principais causas do sofrimento da população negra nessa idade.
Racismo institucional
Ao mesmo tempo, negros e negras também sofrem com obstáculos para procurar ajuda. O racismo institucional, como vimos, nega a essa população atendimento adequado em serviços de saúde. Assim como impõe outros obstáculos: falta de moradia adequada, educação de qualidade, emprego digno.
Todos esses elementos dificultam que a pessoa consiga sair da situação de sofrimento em que está. Pelo contrário, só reforçam os sentimentos negativos.
Por isso, discutir o racismo enquanto um sistema estrutural da nossa sociedade é fundamental. Só assim podemos ver que esses sentimentos de inadequação e insuficiência não são um resultado individual. Mas sim, de uma sociedade que exclui e violenta corpos negros.
Obviamente, essa não é uma solução fácil. Mas ajuda a reduzir o sofrimento individual e permite que pessoas negras e de outras etnias minorizadas busquem ajuda.
Como fazer o acolhimento
Se você chegou até aqui, a relação entre racismo e saúde mental no trabalho deve estar ficando bem evidente. Mas é sempre importante reforçar: uma empresa comprometida com o bem-estar psicológico de seus colaboradores precisa combater toda forma de discriminação.
O preconceito no trabalho contribui com todos os sentimentos negativos que listamos anteriormente. Além de impactar na produtividade e contribuir com doenças como a síndrome de burnout.
Por isso, reunimos numa lista abaixo, ações que sua empresa pode tomar para se tornar um ambiente mais acolhedor para pessoas negras e de outras etnias minorizadas.
Aposte no letramento racial dos colaboradores
Até aqui, mostramos como o racismo afeta a saúde mental das pessoas negras. Então imagine lidar com toda essa sobrecarga e ainda ser responsável pelo letramento racial de todos os seus colegas. É demais, não é? Por isso, empresas comprometidas com a saúde mental no trabalho precisam investir na educação de toda a equipe para a diversidade.
Nesse processo, é importante que pessoas brancas comprometidas com o antirracismo contribuam e saibam endereçar casos de racismo sem sobrecarregar colaboradores negros. Mas sem passar por cima do protagonismo deles também, é claro.
Ofereça suporte médico e psicológico
Como explicamos, o racismo institucional impede que muitas pessoas negras acessem serviços públicos de saúde. Por isso, é fundamental que as empresas ofereçam esse tipo de benefício para todos os seus colaboradores. Convênio médico e auxílio psicológico adequado são fundamentais para lidar com essas situações.
Apoie grupos de afinidade
Você já experimentou olhar ao redor e ver quantas pessoas negras ocupam cargos ao seu lado? A sensação de solidão que negros e negras enfrentam não é infundada. Em muitas empresas, a grande maioria da equipe é branca. Mesmo que 54% da população seja preta ou parda.
Por isso, ter um lugar de apoio para conversar e se apoiar mutuamente é muito importante. É aí que entram os grupos de afinidade, que reúnem pessoas por etnia, gênero, sexualidade e outros fatores. Apoie a criação desses espaços, ofereça condições para os encontros e incentive as conversas. Tudo isso vai criar um ambiente de trabalho mais saudável e diverso.
Incentive lideranças diversas
Por mais acolhedora que sua cultura organizacional seja, nem sempre uma liderança branca vai compreender o que uma pessoa negra passa no dia a dia. Além disso, a falta de representatividade também impacta na autoestima de pessoas negras colaboradoras.
Ter diversidade étnica entre as lideranças ajuda a incentivar outros profissionais e constrói um ambiente que se mostra realmente inclusivo. Não apenas para pessoas negras, mas também para outros grupos minorizados. Para isso, a empresa pode ter processos de mentoria e formação de lideranças negras, por exemplo.
Quer saber mais sobre o assunto? Uma consultoria pode ajudar a sua empresa a pensar ações de combate ao racismo, com mentorias, treinamentos e planejamentos estratégicos.
Entenda como funciona uma consultoria de diversidade e veja como podemos ajudar seu negócio a promover a saúde mental no trabalho!