Muitas vezes, o preconceito aparece de maneira bem mais sutil, na forma de vieses inconscientes. Chamamos isso de viés da aparência: quando uma pessoa é julgada com base em suas roupas, seu físico ou sua adequação aos padrões de beleza.

Quem nunca ouviu falar que tatuagens ou piercings aparentes podem atrapalhar a colocação no mercado de trabalho? Ou, então, que cabelos black power ou dreadlocks devem ser evitados? Esse tipo de comentário parte de uma noção equivocada de que certos tipos de aparência passam menos credibilidade do que outros ou representam “desleixo”.

A seguir, vamos mostrar como a discriminação baseada na aparência visual no trabalho é prejudicial para o seu time. Além de mostrar como você pode promover um ambiente mais plural e inovador com pessoas diversas. Boa leitura!

O que significa discriminar com base em aparência?

Recentemente, o documentário “Abercrombie & Fitch: Ascensão e Queda” da Netflix abordou o assunto da aparência visual no trabalho. O filme mostra como a marca, que foi a queridinha dos jovens no início dos anos 2000, contratava e demitia funcionários baseados em um conceito de beleza.

Segundo antigos colaboradores, a empresa escolhia seus vendedores a partir de uma escala do quão bonitos e “descolados” eles pareciam. Esse juízo de valor, além de excludente com quem está fora do padrão de beleza, também reproduzia outros preconceitos. Isso porque a maior parte dos escolhidos era branco, jovem e magro. Há alguns anos, a marca foi denunciada pelas práticas discriminatórias e, recentemente, adotou uma política de inclusão.

Aliás, engana-se quem acredita que essas práticas acabaram no ambiente de trabalho. Estudos reunidos pelo professor Tomas Chamorro-Premuzic, da University College London, afirmam que pessoas consideradas “fora do padrão” têm menos chances de serem contratadas e mais chances de serem demitidas, quando conseguem um trabalho. Além de receberem salários, em média, 10 a 15% menores que as pessoas cuja beleza é considerada “acima da média”.

Esse tipo de discriminação acontece por muitos motivos, mas as principais justificativas são de que o colaborador deve representar a imagem da empresa. Ou então que precisa passar determinada mensagem para os clientes. Mas a verdade é que a maior parte das situações é baseada em puro preconceito. Abaixo vamos falar um pouco sobre cada uma delas.

Cabelo

Muitos empregadores ainda discriminam candidatos que usam cabelo crespo solto, tranças ou dreadlocks. Existe um preconceito muito difundido na sociedade de que esses penteados seriam sinais de desleixo ou sujeira, principalmente em pessoas negras. Estamos falando de um caso clássico em que o viés de aparência está relacionado com o racismo.

Além disso, cabelos longos para homens, curtos para mulheres, ou coloridos em todos os gêneros podem sofrer preconceito. Não se trata, como nas situações anteriores, de uma opressão estrutural, obviamente. Mas ainda é um comportamento discriminatório. Principalmente porque muita gente ainda reproduz o discurso de que esses candidatos seriam rebeldes ou descompromissados, por exemplo.

Tatuagens e piercings

Outra característica física que ainda sofre discriminação no mercado de trabalho são os piercings e tatuagens. De acordo com uma pesquisa do site Skinfo.com, 37% dos gestores de RH citam tatuagens como um dos atributos físicos que podem impedir uma pessoa de progredir na carreira. Ao mesmo tempo em que 42% das pessoas entrevistadas afirmou que tatuagens não são apropriadas para o ambiente de trabalho.

A boa notícia é que já evoluímos um pouco nesse quesito. Em 2016, o Supremo Tribunal Federal decidiu que candidatos com tatuagens não poderiam ser desclassificados de concursos públicos, por exemplo.

Peso

O peso é mais um fator que pode levar à discriminação pela aparência visual no trabalho. Em uma reportagem da IstoÉ Dinheiro, a feirante Kátia Xangô contou que ela já foi dispensada de uma entrevista assim que a empregadora a viu. A mulher nem sequer fez perguntas sobre suas qualificações e logo desqualificou a candidata por seu peso.

Além disso, mesmo quem é contratado pode sofrer com situações vexatórias, como ambientes de trabalho inadequados à pessoas gordas e uniformes que não possuem tamanhos adequados.

Idade

Outro grupo que sofre com os viéses de aparência no ambiente de trabalho são os profissionais mais velhos. Uma pesquisa feita pelo Infojobs, empresa de recrutamento online, mostrou que 70,4% dos profissionais com mais de 40 anos já sofreu discriminação por causa da idade.

Ao mesmo tempo, pessoas que parecem mais novas do que são também podem sofrer no ambiente de trabalho. Uma reportagem da BBC, por exemplo, mostrou que aparentam ser mais jovens do que são podem não ser levadas tão a sério pelos colegas. Em alguns casos, elas podem até ser preteridas para cargos de liderança, que precisam passar uma imagem de “autoridade”.

Performance de gênero

Por último, é importante citar também o gênero como mais um elemento que influencia na forma como as pessoas são vistas nas empresas. Pesquisas mostram que as exigências em relação à aparência são maiores para mulheres.

Além disso, performar de acordo com o gênero designado no nascimento também é imposto em muitos ambientes de trabalho. Isso fere não só pessoas trans, mas qualquer pessoa que se porte ou se vista de maneira considerada “fora dos padrões”.

Combatendo preconceitos motivados pela aparência

Como você viu, as formas de discriminação pela aparência visual no trabalho são muitas. Mas existem algumas formas de eliminar esse preconceito na sua organização. Veja algumas das nossas sugestões abaixo!

Revise políticas relacionadas com aparência

O primeiro ponto para eliminar esse viés de aparência é revisar suas políticas e regras relacionadas à vestimenta no trabalho, caso existam. Muitas empresas que trabalham com o público, com alimentos ou na indústria possuem esse tipo de norma. Seja por questões de imagem, de higiene ou de segurança.

Por isso, o mais importante é que esses documentos reforcem apenas aquilo que for extremamente necessário ao trabalho. Retire menções ao cabelo, às tatuagens e piercings, ao peso e qualquer coisa que possa ser discriminatória. É claro que o uso de toucas, por exemplo, pode ser exigido para quem trabalha com alimentação. Assim como a retirada de brincos e piercings por motivos de segurança em outras funções. Mas lembre-se, apenas quando for extremamente necessário.

Além disso, quando for o caso, você deve oferecer aos funcionários condições adequadas para seguirem a política da empresa. Como toucas em tamanho certo para pessoas com cabelos volumosos, por exemplo. Ou uniformes sem distinção de gênero para que todos os colaboradores, independentemente da identidade, possam usá-los sem problemas.

Promova uma cultura inclusiva

Lidar com as diferenças no ambiente de trabalho depende de uma cultura organizacional que seja realmente inclusiva. Para isso, você pode começar fazendo pesquisas de clima e entendendo o que seus colaboradores pensam sobre determinados tópicos.

A partir desses dados, é possível criar ações direcionadas e promover um ambiente mais amigável para diferentes grupos. Assim, você vai conseguir fazer processos seletivos, ou seja, atrair e também reter mais profissionais diversos.

Além disso, uma cultura inclusiva passa também por promover lideranças comprometidas com a diversidade. Trata-se de uma tarefa de toda a empresa, não apenas do time de recursos humanos, e os gestores precisam entender isso.

Treine sua equipe

Como você viu, é importante que toda a equipe esteja alinhada com a promoção da diversidade. Por isso, promover treinamentos e atividades de conscientização pode ser uma boa ideia. Você pode começar pelos times de RH, que são os responsáveis por recrutar e reter esses profissionais na equipe. Mas é importante que esse time passe adiante seus conhecimentos para líderes e, consequentemente, para toda a empresa.

Com essas ações, seu time pode se preparar melhor para lidar com as diferenças e promover um ambiente de trabalho mais agradável para todos, independentemente da sua aparência visual no trabalho. Além de criar uma empresa mais criativa e inovadora com pessoas diversas.

Gostou do conteúdo até aqui? Saiba mais sobre o assunto no nosso post sobre o que é diversidade e como promovê-la.