Se o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 54% da população brasileira é negra, por que ainda não vemos essa diversidade dentro das organizações? Algumas ações, como o letramento racial, podem ser grandes aliadas para contribuir com o antirracismo nas empresas e transformar a realidade do mercado.

Isso acontece porque, a partir do letramento racial, organizações são convidadas a refletirem sobre como o antirracismo é uma responsabilidade de todas as pessoas. 

Esse entendimento melhora as relações de trabalho e interpessoais, diminuindo o impacto dos casos de racismo na carreira de profissionais negras e negros. Além disso, ajuda a promover ações para aumentar o número de pessoas negras nas empresas.

Neste artigo, vamos explicar um pouco mais sobre como o letramento racial pode contribuir com o antirracismo nas organizações. Confira!

O que é letramento racial?

Em poucas palavras, o letramento racial é um processo de educação antirracista que pode envolver todas as equipes de uma instituição. É uma ferramenta para provocar reflexões acerca de assuntos, como o racismo estrutural e institucional, por exemplo. Indo além da compreensão do papel de cada pessoa colaboradora na redução da desigualdade racial nas empresas.

A primeira vez que o conceito foi visto, foi por meio da socióloga estadunidense France Winddance Twine. 

O letramento racial nasce como uma resposta individual frente às tensões raciais. Já que mesmo por meio de políticas públicas e ações de enfrentamento ao racismo, um dos primeiros passos é reeducar uma sociedade que se construiu delimitando espaços a partir da cor da pele.

Conforme a pesquisadora Lia Vaine Schucman, com o letramento racial é possível desconstruir formas de pensar e agir, tendo em vista que as relações são naturalizadas e construídas a partir da desigualdade entre pessoas brancas e negras. Sobretudo em nosso país, que carrega na história quase 400 anos de escravidão e os impactos que são vistos até os dias de hoje.

Isso vai de encontro à famosa frase de Angela Davis, filósofa e militante, muito compartilhada nas redes sociais no último ano: 

“Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. 

E é por isso que por meio de treinamentos, oficinas, ações de comunicação e palestras, por exemplo, organizações devem capacitar seu quadro de colaboradores e colaboradoras, e ter responsabilidade com a equidade e a diversidade.

Como o letramento racial pode ser utilizado para combater o racismo nas organizações?

Quando falamos que o letramento racial é uma forma de reeducar a sociedade não é em vão. Isso porque, não basta apenas refletir sobre o racismo e seus impactos, é preciso compreender qual é o papel de cada pessoa nesse processo, brancas e negras.

O letramento racial não vem somente para mudar um cenário que sofria com a falta de políticas de diversidade, equidade e inclusão nas organizações, mas também, para propor que pessoas brancas reconheçam o problema e façam análises sobre suas ações.

Um bom exemplo para ilustrar como essa ferramenta pode ser utilizada para combater o racismo é o processo de aprendizagem de uma criança. Ninguém nasce sabendo ler e/ou escrever, mas aprende ao longo da jornada educativa. A mesma coisa acontece com o racismo, desde muito novos somos apresentados às questões raciais e os desdobramentos sociais.

Segundo a socióloga Neide A. de Almeida, o letramento racial pode ser utilizado para garantir um posicionamento firme no combate ao racismo. Por isso, deve ser responsabilidade de todas as organizações:

  • questionar como a sociedade se estrutura e por quem são ocupados os lugares de poder;
  • a importância das ações afirmativas na entrada de profissionais negros nas organizações;
  • compreender os processos históricos do nosso país e como isso impacta até hoje;
  • desconstruir uma história única que coloca homens brancos como detentores dos espaços de liderança;
  • transformar as relações sociais na nossa sociedade.

Quando o antirracismo se torna uma prática comum dentro de organizações, o combate ao racismo também se torna mais efetivo. 

Com isso, é possível perceber o aumento de times compostos por profissionais negros e negras, planos de carreira que envolvam esses profissionais, estruturas corporativas mais saudáveis e representativas. 

Obviamente, ações isoladas de letramento racial não produzem todos esses efeitos, mas ainda são fundamentais para fortalecer o movimento de inclusão.  

Letramento racial nas empresas  

As ações letramento racial devem ser feitas por profissionais especializados na temática, com conhecimento profundo da questão étnico-racial, com experiência em facilitação de grupos, comunicação não-violenta, etc. 

Afinal, trata-se de uma iniciativa educativa que precisa dialogar com pessoas que vivem em contextos corporativos diferentes. Desse modo, quanto mais experiência específica os responsáveis tiverem, mais chances da comunicação ser assertiva.   

Além disso, é importante que a organização não enxergue o letramento como “solução única”, ou seja, o letramento racial feito de forma isolada não tem demonstrado eficácia na mudança de cultura nas organizações. 

Em outras palavras, é preciso uma estratégia transversal que sustente a cultura inclusiva a longo prazo.  

Como o letramento racial pode impactar positivamente nas organizações?

Engana-se quem pensa que falar em diversidade é somente uma discussão política dentro do mundo corporativo e que não adiciona valor ao negócio.

Um ambiente diverso e com uma política de diversidade, equidade e inclusão bem estruturada possuem maiores chances no mercado. Segundo uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company:

“As empresas com quadros mais diversos têm 35% mais chance de retorno financeiro que a média do mercado. Isso porque, com um quadro de colaboradores composto por pessoas de origens e características diversas, ampliam-se aspectos como criatividade, inovação, engajamento, maior dedicação e novas visões de mundo, permitindo à organização se tornar mais competitiva no mercado e atingir públicos maiores.”

Por isso, investir em letramento racial nas organizações não só impacta na vida de todas as pessoas, mas também nos resultados – e é claro que isso também importa.

Exemplo de iniciativa de letramento racial 

Conhecer iniciativas que deram certo e ações voltadas a promover a diversidade nas empresas é necessário, e inspirador! 

Você já pensou viver em um mundo onde as conquistas são igualmente possíveis e todas as pessoas respeitadas? 

Ifood

Até 2023, o Ifood assumiu o compromisso de ter pessoas negras em 40% do time e em 30% das lideranças. Para isso, uma das ações da empresa foi contratar a Singuê – consultoria especializada – para desenvolver uma trilha de letramento de ensino à distância sobre práticas antirracistas.

O objetivo do Ifood é alcançar o máximo de colaboradores e colaboradoras para levar conteúdos com alta capacidade educativa e transformadora. 

A trilha educativa ainda vai além e compreende ações de letramento, como onboarding de liderança inclusiva e o programa de mentoria para pessoas negras. O programa foi lançado em março de 2022.

Para saber mais sobre o trabalho da Singuê, conheça os nossos serviços.