Quando falamos da aplicação de políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nas empresas, queremos uma ação muito além da simples contratação de talentos plurais. É preciso que essas políticas se alinhem às ferramentas que possibilitem uma estrutura de acolhimento, permanência e representatividade nas demandas do ambiente de trabalho.
Assim, o grupo de afinidade é um dos instrumentos que proporcionam a criação de vínculos saudáveis e melhor engajamento entre as pessoas da organização, garantindo a maior permanência desses talentos. Trata-se de uma estratégia de diversidade e inclusão imprescindível, que representa um passo além da obviedade. Você e sua empresa já estão nesse caminho ou querem saber como fazê-lo? Saiba mais no texto abaixo.
O que é um grupo de afinidade?
Como o nome já indica, grupo de afinidade são comunidades de pessoas com interesses e demandas em comum no trabalho. De modo geral, os participantes costumam ter como foco um único e mesmo propósito.
Dessa forma, a influência gerada por esses grupos pode refletir nos aspectos do negócio, nas relações no ambiente de trabalho. Além disso, podem impactar o desenvolvimento de lideranças e o engajamento da empresa no mercado.
Um grupo de afinidade é considerado uma das formas práticas de diversidade, equidade e inclusão. E muitas vezes essas práticas nascem organicamente das pessoas que trabalham na empresa colaboradores como uma necessidade de levar às suas lideranças reivindicações coletivas.
Mas tudo fica mais complicado quando não há apoio de seus líderes e os colaboradores encontram-se abandonados pela organização. O que, certamente, não é o desejo de nenhuma empresa ser conhecida por abandonar seus talentos.
De que maneira se constitui
Os grupos de afinidade são compostos pelos profissionais das corporações que se unem para discutir demandas em comum. Por exemplo, tensões raciais que possam existir no ambiente corporativo são trazidas e debatidas pelas pessoas negras da empresa.
Porém, um dos componentes mais interessantes no grupo de afinidade é a diversidade de diálogos. Ou seja, não é preciso que em um grupo com temáticas raciais tenha somente colaboradores e colaboradoras racializados. Pessoas de outros grupos – conhecidos como aliados – também podem participar dependendo da decisão do grupo.
Outro ponto importante, são os aspectos positivos oferecidos aos profissionais no momento em que se cria esse canal de comunicação, escuta, pertencimento e acolhimento entre os indivíduos da organização.
Essa abertura proporciona oportunidades plurais e melhores para solucionar problemas no trabalho, além de trazer inovação e liberdade criativa para cada colaborador e colaboradora desenvolver suas habilidades. Tanto para aqueles que já estão estabelecidos na equipe, quanto para os novos talentos que vão entrar.
Grupo de afinidade x comitê de diversidade
Muitas empresas confundem a função de um grupo de afinidade com os comitês de diversidade e acabam tratando esses grupos como departamentos da empresa.
O comitê é um espaço formal da organização que desempenha um papel estratégico na promoção da diversidade e inclusão. Ele é responsável por planejar, estruturar, executar e acompanhar as ações relacionadas a essas temáticas. Da mesma forma, os comitês costumam ter lideranças definidas, hierarquia e funções específicas para cada membro. Trata-se, portanto, de uma função que acrescenta responsabilidades importantes na rotina de trabalho.
Diferentemente dos comitês de diversidade, os grupos de afinidade não devem ser confundidos com uma estrutura hierárquica da organização. Tratam-se de espaços de apoio e representação para os profissionais que compõem grupos minorizados.
Muitas vezes as empresas acabam sobrecarregando os grupos de afinidade, atribuindo a eles responsabilidades extras além do propósito original. Isso pode gerar uma carga adicional para os colaboradores minorizados, ao invés de aliviar sua carga de trabalho.
É claro que os grupos de afinidade podem sugerir e contribuir com ações de diversidade e inclusão. Mas a empresa não pode esperar que esses profissionais sejam os responsáveis por trazer esses insights nem executar as tarefas relacionadas.
Quais são os objetivos de um grupo de afinidade?
Em uma pesquisa realizada pela Blend Edu, 70% das empresas entrevistadas afirmaram possuir “Grupos de afinidade e diversidade. A pesquisa conta com 45 empresas brasileiras, entre elas Natura, Quinto Andar, RD Station, entre outras. Além disso, o estudo revelou que a prática do grupo de afinidade é uma das ações mais frequentes nos programas de diversidade.
Ainda na pesquisa, a maioria das empresas afirma que o objetivo destes grupos é “conectar pessoas, proporcionando um ambiente de troca”. Em seguida, 82% delas afirmam que o objetivo do grupo de afinidade é validar ações do programa de D&I. Já 61% acreditam que esses grupos ajudam a realizar ações para engajar os líderes, e para 41% o objetivo é realizar ações para atrair talentos diversos.
Segundo a pesquisa, podemos perceber que os objetivos do grupo de afinidade são diversos, mas que contribuem para maior produtividade, retenção de talentos e mais diversidade para as empresas.
Grupos de afinidade possíveis
Se estamos falando de diversidade nas empresas, seria leviano demais pensar que os grupos de afinidade se reduzem a alguns nichos. As singularidades que definem cada pessoa e cada grupo são inúmeras. Até porque as pessoas são intersecções de diversas experiências.
Por conta disso, existe uma variedade de grupos de afinidade e todas eles merecem atenção:
- Grupo de afinidade: diversidade sexual, olhando paras as questões LGBTQIAP+;
- Grupo de afinidade: Pessoas com Deficiência (PcD);
- Grupo de afinidade: mulheres;
- Grupo de afinidade: pessoas negras/ diversidade Racial;
- Grupo de afinidade: pais ou mães.
É fundamental que empresas que buscam ter uma cultura organizacional mais plural, diversa e inclusiva olhem para essas comunidades como ferramentas-chave para promover uma rede maior de contato entre seus colaboradores e seus interesses. Assim como, garantir o compartilhamento e a troca de conhecimento e ideias com clientes e o mercado de trabalho.
Por que minha empresa deveria investir
Um dos motivos para investir em grupos de afinidade na sua empresa é a estrutura que essas comunidades proporcionam para o desenvolvimento corporativo.
Pode até ser que a sua marca tenha uma cultura organizacional bem desenhada, alinhada às pautas de diversidade, equidade e inclusão. Mas, a estrutura disso tudo não oferece apoio e ferramentas coerentes às demandas de seus colaboradores.
E de que forma essas comunidades vão contribuir para uma cultura mais inclusiva na sua empresa?
Ambiente corporativo mais harmonioso e com mais engajamento
As organizações que se dedicam em criar grupos de afinidade, oferecem aos seus talentos diversos espaços e liberdade para desenvolverem atividades no ambiente de trabalho de maneira harmoniosa. Por consequência, os vínculos são desenvolvidos e o engajamento da liderança com seus colaboradores e clientes aumenta. Tudo isso promove o bem-estar no trabalho e impacta positivamente na saúde dos colaboradores.
Vínculos de amizade são criados e facilmente fortalecidos
O artigo “Are you engaged at work? The importance of Friendship and Employee resource group” publicado na Forbes ressaltou a importância de existirem laços de amizade em ambientes corporativos. A reportagem ressaltou ainda os dados da pesquisa Software Advice, segundo o estudo 65% das pessoas entrevistadas relataram que os grupos de afinidade tinham um impacto super positivo no trabalho.
Acolhimento e pertencimento nítido
Além do fortalecimento dos laços criados, o profissional que entra em uma empresa comprometida com questões de diversidade e investe nessas comunidades, têm o sentimento de pertencimento mais nítido e forte. Pertencimento e acolhimento são elementos importantíssimos para profissionais que se identificam como grupos minorizados.
Desenvolvimento de potenciais lideranças
Havendo mais liberdade, espaço e oportunidade para as pessoas desenvolverem sua criatividade e seus trabalhos, as chances de habilidades de liderança serem descobertas são grandes.
Empresas que investem nos grupos de afinidade possuem ambientes de trabalhos impulsionadores, promovendo mudanças em sua cultura organizacional. Uma organização com gestores e lideranças inclusivas.
É perceptível o impacto positivo no desenvolvimento e performance inovadora das empresas no mercado. Além dos valores novos que se agregam e abraçam novos clientes e prospects.
Como iniciar um grupo de afinidade?
1 – Ofereça um canal seguro de comunicação entre todos
Nada mais desconfortável do que saber que sua equipe não se sente bem e segura para compartilhar suas ideias e reivindicações. Por isso, é fundamental que sua empresa proporcione espaços seguros que deem visibilidade aos diversos grupos de afinidade presentes.
Criando canais de comunicação, permitindo assim um fluxo de informações entre a liderança e sua equipe de colaboradores e colaboradoras. Por exemplo: grupo de mensagens, e-mails, encontros em que todos estejam dispostos a ouvir os representantes de cada comunidade.
2 – Dialogue com representantes dos grupos e construa em conjunto
Boas lideranças respeitam e escutam o que seus colaboradores têm a dizer. Com os grupos de afinidade não seria diferente. É super importante que as diferentes perspectivas trazidas por cada representante de cada grupo seja ouvida.
Não só estabelecer um diálogo separado com cada comunidade, mas interseccionar os diálogos. Criar uma conexão entre eles e a liderança para que a discussão de cada grupo possa ser pensada em ações conjuntas. Fortalecendo assim, a cultura da empresa.
Os diálogos podem facilitar a identificação de problemas internos e externos. Desta forma, outros caminhos para novas ações afirmativas necessárias na empresa podem ser apresentados.
3 – Ofereça recursos e treinamentos
Porém, estimular o engajamento nos grupos de afinidade não é suficiente se eles não tiverem recursos e apoio institucional. Para garantir a efetividade desses grupos, é importante que as empresas ofereçam a infraestrutura necessária para as ações.
Além disso, é importante entender que nem sempre os colaboradores dos grupos de afinidade possuirão todos os conhecimentos técnicos e conceituais sobre diversidade. Portanto, investir em treinamentos, cursos, palestras, workshops e colaboração em rede é essencial para capacitar toda a equipe. Essas formações devem incluir referências do mercado, permitindo que os colaboradores adquiram novos conhecimentos e se atualizem sobre os temas pertinentes à diversidade e inclusão.
Marcas já contam com grupos de afinidade
Algumas marcas grandes no mercado já contam com a forte presença de grupos de afinidade. São empresas que entenderam a importância de dar voz, estrutura e visibilidade para a diversidade de seus talentos.
BASF
A BASF é uma das marcas globais que fomenta o senso de comunidade na gestão e desenvolvimento de seus profissionais. Ela conta com diversos tipos de grupos de afinidade, dentre eles:
- Be Different (Grupo de Pessoas com Deficiência);
- BYOU – Be Yourself at BASF (Grupo de Diversidade Sexual);
- BIG – Black Inclusion Group (Grupo de Diversidade Racial);
- WIB – Women in Business (Grupo de Mulheres da BASF);
- RD (RD Station).
A RD é uma das maiores plataformas de marketing digital e vendas no Brasil. E assim como muitas outras marcas, o grupo de afinidade é parte da estratégia de inclusão e diversidade da empresa.
Preto no Preto
- RDSum (comunidade com demandas para pessoas com deficiência);
- SER (busca o fortalecimento da Sororidade, Empoderamento e Respeito entre mulheres);
- Pride to Be (questões LGBTQIAP+);
- RDMoms (enfoque da comunidade de mãe profissionais da empresa, fortalecendo as pautas de maternidade);
NuBank
A NuBank tem sido uma das maiores marcas no Brasil a engajar pautas raciais em sua cultura organizacional. Para quem acompanha as redes sociais da empresa, consegue ver a presença forte em posicionamentos, como no caso do #VidasNegrasImportam no movimento internacional BLM (Black Lives Matter) de 2020.
O NuBlacks é o grupo de afinidade de pessoas negras da NuBank. É um espaço que proporciona o compartilhamento de pautas raciais e experiências vividas por cada colaborador e colaboradora. Oferecendo acolhimento, troca de conhecimento ligados à cultura afro e debates mais amplos sobre diversidade.
Quer saber mais sobre ações de diversidade nas empresas? Leia o artigo: Diversidade nas empresas: 5 razões para você criar uma política de diversidade.