A liberdade foi garantida, porém, não houve nenhuma política de reparação pelas violências sofridas até aquele momento. Pelo contrário, a população negra continuou sendo vista com inferioridade e excluída de acessar o mercado de trabalho e os serviços públicos.
Os resultados desse período nós vemos até hoje: segundo o IBGE, a população negra é maioria entre aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza e as maiores vítimas de violência. Números que são resultado de salários mais baixos e maior índice de informalidade, além do acesso restrito à educação de qualidade.
Por isso é tão importante falar sobre desigualdade racial no mercado de trabalho. Neste artigo, vamos mostrar como o preconceito se manifesta nas organizações e como construir uma empresa antirracista.
Desigualdade histórica
Desde a Lei Áurea, a discriminação racial impede que pessoas negras acessem o mercado de trabalho. De acordo com o historiador René Marc da Costa Silva, trabalhadores negros eram vistos como sinônimo de insuficiência, baixo conhecimento técnico e indisciplina. Essas características eram vistas como inatas à população preta e atrapalhavam a busca por emprego.
Infelizmente, resquícios desse pensamento ainda pesam bastante. São os chamados vieses inconscientes, preconceitos vistos como mais “sutis”, reproduzidos sem reflexão. Além disso, o racismo institucional impede o acesso à educação de qualidade e outros serviços públicos que ajudam a conseguir boas vagas.
Todos esses fatores reforçam a desigualdade racial que ainda se perpetua no país. Um levantamento do IBGE mostra que, em 2019, 32,9% das pessoas pretas ou pardas viviam abaixo da linha da pobreza. O número já era assustador, mas a pandemia de Covid-19 piorou muito esses indicadores. Em 2020, o desemprego cresceu de forma muito mais expressiva entre pretos e pardos, assim como os índices de informalidade.
Mesmo quando pessoas negras conseguem acessar a universidade, elas ainda enfrentam maiores obstáculos para desempenhar funções correspondentes ao que estudaram. Segundo um levantamento da consultoria IDados, 37,9% dos homens negros e 33,2% das mulheres negras com ensino superior estão em ocupações que exigem apenas nível fundamental ou médio. Número que cresceu de maneira bem mais acentuada entre a população negra do que entre a branca.
O preconceito persiste até mesmo no cotidiano de quem consegue uma boa colocação. Um levantamento do portal Infojobs mostrou que 39% dos profissionais pretos e pardos já foram discriminados no trabalho por causa da cor da pele. Destes, 61% tiveram medo de denunciar e acabar perdendo o emprego.
Ações
Agora que você conheceu um pouco melhor os dados sobre desigualdade racial no mercado de trabalho, chegou a hora de agir para diminuir essa discriminação.
Desse modo, para construir uma empresa antirracista, não basta admitir o preconceito, mas agir para superá-lo. Por isso, listamos algumas práticas que você pode instituir na sua organização.
Faça um diagnóstico
O primeiro passo para mudar é entender qual a realidade da empresa hoje. Para isso, você pode fazer um diagnóstico, buscando compreender como está a diversidade na equipe e quais grupos minorizados são menos representados.
É possível fazer uma espécie de censo dentro do time, por exemplo, perguntando como cada profissional se identifica. A partir disso, é possível analisar quantitativa e qualitativamente os resultados.
Mas lembre-se, não estamos falando apenas de números brutos. É importante que sua empresa tenha pessoas negras em diferentes posições para combater a desigualdade racial. Como falamos, a presença de pessoas negras no mercado está muito restrita às funções com menores remunerações e reconhecimento.
Além disso, você precisa analisar se profissionais negros e brancos ganham os mesmos salários pelos mesmos cargos, por exemplo.
Promova o letramento racial
O letramento racial é como chamamos um processo de educação antirracista. Nesse processo, toda a equipe deve entender o que é racismo estrutural, cor, etnia, vieses inconscientes e qual seu papel para reduzir a desigualdade racial.
Você pode fazer isso por meio de treinamentos, oficinas, palestras ou ações de comunicação. O importante é que essas ações sejam constantes, pois sempre há novos colaboradores na equipe e mesmo quem já passou pelas ações anteriores pode ter algo a aprender.
Além disso, as discussões sobre raça não estão paradas no tempo. Há sempre acontecimentos e novos debates acontecendo.
Implemente ações afirmativas
Quando começam a debater diversidade, muitas empresas apostam logo no recrutamento às cegas para reduzir os vieses e buscar apenas o profissional mais adequado para a vaga.
Só que nem sempre isso é suficiente para um recrutamento inclusivo. Apesar do grande avanço que a Lei de Cotas nas universidades significou para o acesso ao ensino superior, ainda há várias outras barreiras para profissionais negros.
Por isso, dependendo do cenário da sua empresa e da função, ações afirmativas podem ser uma boa ideia. Nesses casos, o time de Pessoas é obrigado a fazer um esforço extra para buscar profissionais negros e negras. Além disso, ações afirmativas podem incentivar as pessoas que, por insegurança, não se candidatariam para uma vaga em outras situações.
Invista no desenvolvimento
Como explicamos, nem sempre os profissionais negros e negras têm as mesmas oportunidades que pessoas brancas no mercado de trabalho. Por isso, é preciso fazer um esforço para compensar as barreiras enfrentadas.
A empresa pode criar programas internos de desenvolvimento para pessoas negras, por exemplo. Com isso, fica mais fácil ter negros e negras em posições diversas.
Quer entender melhor como construir esses projetos? No nosso artigo sobre diversidade étnica nas empresas explicamos um pouco mais sobre os benefícios que essas ações vão representar no seu negócio. Acesse e saiba mais!